poema dentro da garrafa *
não consigo escrever mais esta noite
estou só na vastidão do tejo
durmo sozinho com as minhas musas
preparo um café com whisky
não me lembro se para dormir ou não
os meus fantasmas adormecem no fio de rugas de alcântara
as máscaras turvam sombras de rua, embriagam
quem em sítio algum o frio da morte
arrefeça o calor de existir
preparo poemas, s.o.s. de mim mesmo, breve traço, mero trecho
para, quando na praia do muchacho os lançar
(quase forçado ao mar),
um resto de mim possa dormir eternamente
num provável algures azul.
* publicado no caderno colectivo da Europress
"quatro poetas numa garrafa à deriva no atlântico",
com Fernando Grade, M. Parissy e Nuno Rebocho (2004)