poema dentro da garrafa *

não consigo escrever mais esta noite

estou só na vastidão do tejo

durmo sozinho com as minhas musas

preparo um café com whisky

não me lembro se para dormir ou não

os meus fantasmas adormecem no fio de rugas de alcântara

as máscaras turvam sombras de rua, embriagam

quem em sítio algum o frio da morte

arrefeça o calor de existir

preparo poemas, s.o.s. de mim mesmo, breve traço, mero trecho

para, quando na praia do muchacho os lançar

(quase forçado ao mar),

um resto de mim possa dormir eternamente

num provável algures azul.

* publicado no caderno colectivo da Europress

"quatro poetas numa garrafa à deriva no atlântico",

com Fernando Grade, M. Parissy e Nuno Rebocho (2004)

Nuno Trinta de Sá
Enviado por Nuno Trinta de Sá em 28/12/2005
Código do texto: T91398