Ao pé da amoreira

Todos temos nossas manias e formas estranhas de ver o mundo lá fora. Eu tenho por mania me colocar no lugar de outras pessoas. Quando vi um quadro com tres garotos sentados ao pé de uma amoreira, sob um céu turvo no horizonte tentei imaginar o que faria ali um deles... imaginação fértil não? Abaixo, o resultado.

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Sentado ao pé da amoreira, vendo de longe a vida e beirada do mundo do qual fujo. Finjo não pertencer à ele, assim me vejo melhor que os outros perdidos. Não julgo de forma alguma que a superioridade me pertence, pois em certos jogos eu entro mesmo para perder.

Com meus poucos amigos, a amoreira e sua doçura. O ar aqui cheira mais leve. A vida se estica como as sombras no por do sol e só me falta evitar que a sombra vá alem da beirada. Não desejo que de alguma forma eu toque o que está além de lá. Pois são sonhos muito frios, corpos vazios e mentes a ecoar uma ganância estridente. Ninguém ali sente. Ao menos aqui com meus amigos me permito ser intenso. Pois eles não se importam quão grande está minha intensidade, e me abraçam com o mesmo calor da amizade.

É mais doce a vida aqui por baixo da amoreira. Talvez por daqui da sua sombra eu não ligar pras sombras que guardo em mim. E me permito esquecer do frio que passo por saudade de certos abraços. Aqui tenho a certeza de ser quem duvido que sou, e malabarizo com minhas manias mais irritantes. Explicação, intensidade e questionação. Encontro todos os mil motivos para cada misera atitude. Explico-os, intensifico-os e então os questiono.

Cada mania a nossa não? De meus amigos ao meu lado desejo toda a verdade e incompreensão. Pois os aceito assim mesmo que não entendam bem quem sou. É mesmo um jogo a nossa vida, e nossos aliados nessa partida muitas vezes temos de inventar. Mas de certo é bem doce quando os reais se distinguem suados vibrando e gritando para comemorar cada vitória. Não, nós não julgamos que certa superioridade nos pertence, mas intensificamos cada momento. Afinal em certos jogos eu entro mesmo para perder, mas de que importa se valeu a pena jogar, gritando a cada mísera vitória e explicando os pq de uma ou outra derrota.

A amoreira estava tão aconchegante com meus ombros encostados nos ombros dos meus amigos, é pena que lá da beirada gritam por mim. E eu não posso mais adiar meu mergulho. Quando der, volto a me sentar nos pés da minha amoreira, sujo e suado para deixar o sol me secar. Não sei o que me espera lá, nem o que hei de enfrentar. Mas sei que quando volto, aqui me esperam eufóricos meus amigos querendo saber como foi lá. E eu sempre tenho algo parecido para contar. "Foi intenso, ligeiro e dolorido. Mas como sabem, em certos jogos eu não entro mesmo para ganhar".