a LOUCA amante

Deixe-me estatelada no chão por algum tempo, sentir o sol a cegar-me

e conhecer novos ângulos de teu rosto a olhar-me desfigurada, mais uma vez...

Sabe que é isso que me ressuscita a cada tentativa de suicídio?

Vai, pode me chamar de louca e arrancar minha roupa aqui no asfalto imundo... Eu deixo...

Me olha com pena e desprezo que eu penso que é amor...

Ouça as minhas gargalhadas e me chame de ridícula...

Eu sei que não vou morrer e você vai me sustentar num local cheio de enfermeiras bêbadas a me aliciarem e me venderem alguma saída...

Ver você descontente por mais uma vez tentar me salvar é a melhor coisa do mundo.

Você grita comigo e me sacode... Eu choro... Não me pergunte por quê... Acho que é a única maneira de fazer você me abraçar e dizer a mim como a uma criança: 'não chora, você vai ficar bem'.

Sinto arrepios e perseguições, mas você me mantém aqui...

As fadas drogadas estão querendo me levar... Elas dançam, rodopiam e brilham, e me convidam para uma orgia no purgatório... Talvez eu aceite, se você for comigo. Será divertido!

Mas eu sei que você quer que eu vá sozinha... Não quero! Vou aumentar o sangramento se você disser que vai me esquecer!

No fim você não diz nada mais do que 'se cuida', 'tira meu nome e meu telefone das suas coisas porque senão você fica sem presentes no natal, viu menininha?'. Ah, nem ligo mais se você acha que eu sou criança...

Você não pediu pra eu sair da sua vida, e tenho quase certeza que você me observa com desejo... Eu sei que esse sentimento de pena não passa de medo de me machucar... No fundo você me ama não é? As fadas e enfermeiras têm inveja de mim... Os vultos que aqui vejo querem me matar, mas pra quê me matar de eu já faço isso por você?

Não ligue pra eles...

Me beija apenas, que eu vou sozinha, com o número do seu telefone, pra você me buscar no parquinho quando eu cansar de me cortar... Eu sei que você está muito ocupado com as coisas do nosso casamento. Por isso eu vou te esperar lá no castelo de papoulas, ou você prefere que eu permaneça com você, nas noites geladas a fazer você sentir arrepios sinistros?

Bobo, não se assuste, levarei uns pirulitos para a gente brincar na sala de estar. Não conte a ninguém!

Janicris Rezende Januzzi
Enviado por Janicris Rezende Januzzi em 04/05/2008
Reeditado em 07/05/2008
Código do texto: T974952
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