Rondon,o sociólogo dos sertões

Muito já foi escrito e falado sobre os feitos de Candido Mariano da Silva Rondon ora beirando a redundância, ora o exagero barroco como descreveu certa vez Paul Claudel, embaixador da França no Brasil, ”parece uma personalidade do evangelho”, referindo-se a ação catequizadora do marechal. Por esta razão a alternativa mais conveniente para analisar a trajetória deste homem, é através do próprio “método Rondon”: o Positivismo, que se torna um dogma entre as elites intelectuais mais esclarecidas em sua época, que pregava a compreensão histórica como meio de obtenção de dados.

Precocemente Rondon descobriu sua vocação para a carreira militar,ingressando-se aos 16 anos na Escola Militar construindo uma carreira prodigiosa nas forças armadas e ganhando destaque em seu meio pelas tarefas que enfrentou com persistência espartana.

Em 1900 recebeu a incumbência de interligar toda a fronteira da Bolívia ao Paraguai o que resultou após árduos anos de trabalho em 1746 quilômetros de linhas construídas. Neste mesmo período o norte do país enveredava nos primeiros anos de uma vida suntuosa proporcionada pela riqueza da borracha. Segundo Eduardo Galeano em seu livro “As veias abertas da América Latina”, a elite acreana edificou seu império com um luxo extravagante e de mau-gosto:roupas à moda francesa,mármore italiano,azulejos portugueses,etc.

Rondon viveu em um tempo onde as potências imperialistas em uma corrida desenfreada por novos mercados financiavam empreendimentos grandiosos de infra-estruturas em suas colônias.E não demorou muito para os “ecos do progresso” chegarem até ele.Em 1907 foi designada a tarefa de dar continuidade as linhas telegráficas até o Acre. Neste mesmo ano sob o governo de Afonso Penna inicia-se a construção da ferrovia Madeira – Mamoré,financiada pelo capital americano e lendária pelas inúmeras mortes de operários durante o período de construção,o que seria um grande desafio para Rondon:conciliar desenvolvimento do homem branco com a convivência harmoniosa dos silvícolas. Foi exatamente por causa desta bandeira que defendeu com abnegação, que se tornou um símbolo da união dos dois povos,brancos e índios, valendo-lhe a função de diretor da Fundação do Serviço de Proteção ao Índio em 1910 e posteriormente em 1957 uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz. Um relato de uma ilustre testemunha de sua época, Lima Barreto em sua obra “Marginália”, mostra um pouco como era a tática do pacificador ao adentrar no “inferno verde”:

“Rondon catequista é um grande general e o general é um grande catequista.Quan-do Rondon foi chefe da comissão de linhas telegráficas ,só em milho ele gastava -mais de quinhentos contos por ano ,porquanto tinha se intensificado a agricultura en-tre os Nhambiquaras.Sei disto porque nesse tempo era eu empregado da Secretaria da Guerra e vi os papéis a tal respeito”.

Não foi apenas os Nhambiquaras que Rondon ajudou a plantar , mas também em seu discípulo Orlando Villas Boas que ele plantou a consciência indianista como -afirmou posteriormente o Epidemiologista Roberto Baruzzi da Universidade Federal de São Paulo.

Ruan Pina
Enviado por Ruan Pina em 13/09/2008
Reeditado em 13/09/2008
Código do texto: T1176041