MEMÓRIAS DA ESCOLA

Caminho pelo pátio da FAC, centenas de alunos seguem caminhos e cursos opostos, entrelaçando pensamentos e desejos. Entretanto, uma professora entra na sala, no segundo dia de aula do curso de Letras e com uma proposta que me chama atenção:

- Vocês lembram-se da escola em que estudaram? Desenvolvam um texto contando sobre ela e sobre aquele professor (a) que foi inesquecível.

Voltei aos tempos de criança quando ainda cursava o primário e usava maria-chiquinha. Meus olhos encheram-se de lágrimas, lógico que consegui disfarçar. Daquele instante, eles não conseguiram mais encarar a professora, mas o coração se encheu de alegria.

Diz o ditado popular: “que lembrar o passado é sofrer duas vezes”. Mas quem foi que disse que lembrar o passado tem que ser necessariamente as coisas ruins. Que nada! Voltar ao passado é resgatar forças para prosseguir o presente. É abraçar os sonhos que ficaram esquecidos naquele cantinho iluminado pela luz do sol e fugir para o presente galopando com eles no dorso do seu cavalo alado. E, assim, fiz.

Aquele tema despertou a saudade dos tempos em que vestir a saia azul-marinho toda pregueada, camisa de algodão e meias três quartos brancas, com os famosos sapatos pretos vulcabrás, era um sonho de aprender o Bê-á-bá, debruçada na Cartilha Caminho Suave, descobrindo a magia e a arte de ler e escrever.

Passou um filme na minha cabeça. O coral, os desfiles de sete de setembro, o mural das melhores redações e das poesias. O dia festivo em que corajosamente subi no degrau mais alto da escada em que dava para o pátio e recitei um versinho para minha querida mãe.

“…” Te lembro o chinelo na mão, o avental todo sujo de ovo,

se eu pudesse eu queria outra vez mamãe,

começar tudo, tudo de novo…”

Coisas pitorescas da minha suave idade que se transformaram em prosa e verso.

Quanta saudade trago comigo, da professorinha Vera Lúcia, da minha segunda série. As outras foram especiais, mas esta tinha um “Q” a mais. Descobriu desde cedo o meu dom de escrever. E pelas redações que eu fazia, dizia a minha mãe, que um dia seria escritora.

O tempo passou como uma leve brisa. O sonho ficou adormecido na gavetinha do meu coração.

Hoje, ainda tenho um livrinho, que guardo com muito cuidado, um presente que ela me deu: Da coleção Histórias Encantadas – da autora Maria do Carmo Vieira – No País dos Anões – Editora do Brasil S/A:

- Para Silvia Cristina, com todo carinho. Da professora Vera Lúcia.

As lágrimas brotaram dos meus olhos. Mas não foram de tristeza e sim de alegria.

Foi muito fácil escrever este texto, é muito bom sonhar, é maravilhoso realizar sonhos. Como escreveu Fernando Pessoa: O Homem é do tamanho dos seus sonhos.

SILVIA TREVISANI
Enviado por SILVIA TREVISANI em 11/02/2009
Reeditado em 13/02/2009
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