PROFESSAURO: UMA ESPÉCIE QUE NÃO ESTÁ EM EXTINÇÃO

PROFESSAURO: UMA ESPÉCIE QUE NÃO ESTÁ EM EXTINÇÃO.

Mario Roberto Machado Torres

Os dinossauros são répteis predadores que viveram há milhões de ano. Supõe-se que houve uma extinção em massa dessas espécies a cerca de 65,5 milhões de anos. Diversas teorias tentam explicar esse fato, mas a mais provável e a mais famosa é a de que um grande asteróide tenha caído sobre a terra e levantado poeira na atmosfera, impedindo que a luz do sol alcançasse a superfície. Muitas espécies vegetais que necessitam fazer fotossíntese para viver teriam morrido e, por fim, os dinossauros vegetarianos. Sem os dinossauros vegetarianos para comer, todos os carnívoros também acabaram morrendo, marcando assim o fim da era dos dinossauros, ou seja, os dinossauros não souberam se adaptar as novas circunstâncias que a natureza estava oferecendo. Existem outras tantas teorias que tentam explicar o desaparecimento dos dinossauros.

O professauro é uma espécie de professor que não acompanha as mudanças que ocorrem no mundo e, portanto, não modifica suas práticas, cristalizando o conhecimento e as formas de ensinar. Suas visões de Mundo, sociedade, homem, educação, aluno são ultrapassadas. È uma figura muito presente em nossas escolas e ao contrário dos dinossauros não está em extinção. São predadores nocivos a sociedade, pois deformam seres e colocam em risco e comprometem o futuro de crianças, adolescentes, jovens e adultos. Representa e repete as falas que constam no roteiro, obedecendo prontamente às orientações do diretor de cena.

As características de um “professauro” são conseqüências de sua má formação como profissional e como pessoa. Como profissional é formado em cursos de graduação que seguem modelos arcaicos. A seleção dos professores até 1988 era feita por indicação, ou seja, quem tivesse um “padrinho” garantia o cargo de professor. Hoje o ingresso no magistério se dá através de concurso público, mas mesmo assim temos pessoas que não tem nenhuma afinidade com a arte de ensinar. Falta rigor por parte dos sistemas de ensino no cumprimento das regras do estágio probatório, onde esse profissional está em regime de experiência. Deveriam ser excluídos aqueles que não demonstram nenhuma competência para ensinar. Como pessoa não aprendeu no decorrer de sua vida os valores necessários à formação de um ser humano.

Os termos “professauro” e “dinossauro” não têm nada a ver com a idade. Tem muito professor recém-formado já com os sinais e sintomas que o levarão a extinção. Esses professores já deviam está em extintos, pois não sabem, não querem e não tem a consciência de se adaptar e enfrentar as novas exigências do mundo. Sobrevivem os que se adaptam, alcançando vôos mais altos em suas carreiras.

Compromisso social é outro aspecto que o professauro também não tem. Seu vínculo com a educação é somente do emprego. “Dar aulas” e cumprir todo o programa não significa que o aluno aprendeu e esse deve ser o objetivo de toda ação docente. Transmitir informações e conhecimentos, tidos por muitos professauros como sendo a ação principal do docente em sala de aula, não supre as necessidades do aluno e do mundo atual. Os alunos precisam ser participantes ativos nesse processo e produtores do conhecimento, cabendo ao professor oportunizar e mediar esse processo. O compromisso que me refiro acima é o compromisso que Paulo Freire fala: o de transformar a realidade.

Na forma de ensinar, o professauro se vale principalmente da exposição verbal dos conteúdos. Passa horas falando, como se o aluno fosse um banco de dados, exigindo assim a memorização e em determinados momentos, decididos por ele, exige o retorno tal qual falou. Qualquer desvio da resposta do aluno é considerado um erro. Essa metodologia sempre será necessária para alguns conteúdos, mas não para todos. Exige-se assim pouca coisa do aluno, apenas decorar conceitos, fórmulas etc. e sabemos que isso não significa aprendizagem. Recitar uma definição não quer dizer que entendeu o seu significado ou conceito. No mundo de hoje necessitamos de processadores de dados e não de armazenadores de dados.

Ao avaliar o professauro visualiza apenas a aferição de notas ou menções, utilizando predominantemente o instrumento prova, sem uma reflexão profunda sobre esse processo que está intimamente ligado ao processo de ensinar. Ensinar e avaliar são facetas de uma mesma moeda. Avalia-se para saber como foi o ensino com vista ao seu aperfeiçoamento, redirecionamento e decisão para retomada se necessário. Mas infelizmente não é essa avaliação que o professauro pratica. Ele visa somente à classificação dos alunos, comparando-os com os outros alunos e não com os objetivos a serem alcançados e consigo mesmo. Por isso a ênfase é dada a nota, que ganha o papel principal nesse filme. Os demais aspectos da avaliação são coadjuvantes ou figurantes.

Em relação aos conteúdos “ensinados”, o professauro só repassa os que estão no programa sem nenhuma análise, sem refletir sobre as necessidades e os interesses dos alunos naquele determinado momento. Não discute sobre qual seria o fundamental para a formação de um ser total, cidadão no sentido pleno da palavra e quais ajudariam mais o aluno a viver melhor.

Sonho com mudanças. Sei que elas levam tempo para acontecer e que os principais fatores das mudanças são as pessoas e que não é de um dia para outro que as pessoas mudam sua maneira de pensar e, conseqüentemente, de agir. Quando isso acontecer, os professauros estarão extintos de nossas escolas e só teremos professores que fazem uma leitura histórica e crítica das cenas e do roteiro e questionam as orientações para a representação.

Mário Roberto
Enviado por Mário Roberto em 19/02/2009
Código do texto: T1446848
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