Uma frase de Machado de Assis

Lembro-me quando um dos personagens de Machado de Assis auferiu: “Não é uma refeição de príncipe, mas satisfaz todas as ambições de um estômago sem esperança”. Meus óculos custaram a ensejar por um motivo. Não que me contenha, mas a abstração levou-me ao âmago existencial humano, onde o progresso – tanto material quanto espiritual – é barrado por uma limitação física inalienável (pois não depende da simples vontade). Do outro lado – dos que não sentem a falta de sustância básica - transferir a fome a outrem, ou ao plano das idéias, é algo que não deveria se quer ser cogitado por aquele que come, porque esse se funde, constantemente, ao objeto necessitado (o que, muita vez, é meramente uma ridícula concretização do desejo); ao passo que aquele constantemente ela – a comida – deseja, não impondo a limites para consegui-la. A parte que não satisfaz essa necessidade é um simples libelo jogado ao acaso, desprovido de artigos e fundamentações; não é dado àquele que tem um estômago sem esperança o talante da decisão; vive, ele, a descrição perfeita do acaso, onde a abnegação de outrem é, certas vezes, o afastamento temporário desse fato opróbrio que se chama fome. Onde – no espaço e no tempo – viverão os estômagos que sentem fome? Em que escala ontológica estará o que nem a refeição de um não-príncipe percebe?