Os meus desastres de avião

Confesso que tenho medo de andar de avião, e quando cai um avião, juro que nunca mais me pegam. Mas houve uma época em que tinha que voar pelo menos duas vezes por semana, por necessidade profissional.

Uma vez me arrumaram uma viagem para o Japão, onde fiquei duas semanas trancado num escritório, cercado por duas dezenas de japoneses idênticos me vigiando o trabalho. Na viagem, fomos até Los Angeles, onde trocamos de avião e descemos em Honolulu, a tempo de passar dois dias procurando as malas de um colega que se extraviaram, e do Havaí vi Pearl Harbour e a chaminé de um navio afundado em 1941 no famoso ataque que colocou os americanos na segunda guerra.

Mas dessa vez não houve nada semelhante a um desastre. Os aviões voaram muitas horas sobre o oceano Pacífico, a ponto de ficarem sujos como um ônibus São Paulo-Quixaramobim, após algumas horas de viagem, com cascas de laranja e vômitos de meninos no chão.

Uma vez, vindo de Brasília para o Rio de Janeiro, o avião pegou uma dessas tais turbulências, e trepidava como se estivesse numa estrada esburacada... Depois, começava a cair em queda livre, como um elevador antigo que dava frio na barriga, com aquele barulhinho tétrico da queda, um zzzziiiiiiimmmmm que nunca mais terminava. Mas parava, para voltar para a estrada esburacada e depois iniciava outra queda sem fim. Primeiro achei que era uma situação rotineira, mas quando vi as duas aeromoças sentadas lado a lado, agarradas e gritando percebi que o negócio era mais sério do que parecia. Mas dessa vez escapei.

Encontrei um amigo engenheiro que trabalhava para uma companhia de petróleo e que havia pedido demissão para comprar uma padaria porque o seu avião ao decolar do Santos Dumont, subiu lindamente... e mergulhou na baia da Guanabara. Ele teve que voltar a nado, e um senhor com o susto não conseguiu sair do avião e morreu afogado. Meu amigo jurou nunca mais entrar num avião e voltou à atividade do pai de dono de padaria.

O meu pior acidente foi na ponte aérea Rio-São Paulo. Saímos às sete horas da manhã e nunca conseguimos chegar. Isto é, chegamos em São Paulo, mas não conseguimos descer. O avião ficou voando em círculos e depois o comandante comunicou que retornaríamos ao Rio de Janeiro e faríamos um pouso de emergência no Galeão.

Bem, por que o Galeão?, perguntou o meu vizinho de poltrona. Acho que tem mais recurso, bombeiros e ambulâncias. E a pista é mais segura.

As emoções humanas afloram nos momentos de perigo. Mas todos nos comportamos bravamente. Ninguém berrou de pavor, com medo de morrer, se bem que eu quase pirei, achando que ia realmente morrer aquele dia. Mas não morri. O avião desceu de barriga, às onze horas, com os bombeiros correndo atrás do avião em seus caminhões.

Acho que fui o primeiro a me atirar naquele tobogã de plástico que eles colocam. Para ouvir o bombeiro sussurrar no meu ouvido:

- Nunca foi tão fácil voar!