Gripe, um combate real

Uma coisa simples como um vírus influenza pode nos matar. Exatamente. É perigoso minimizar essa pandemia de influenza H1N1 e dizer que ela mata pouco, apenas aqueles que já estiverem com a saúde debilitada. Não é assim. As grupes comuns, aquelas que atacam anualmente, e para as quais já há vacina é que tem esse efeito destruidor sobre os fracos, tais como idosos, doentes dos pulmões ou imuno-deprimidos.

A H1N1 mata pessoas saudáveis, em mais de 50%.

A sua letalidade, no entanto, não se revelou tão alta como originalmente se previa. Uma gripe comum tem a letalidade de 0,5%, ou seja, pode matar até 0,5% das pessoas infectadas. A gripe H1N1 não chegou a atingir ainda os 0,5 %. A gripe espanhola de 1918 matou 2,5% dos infectados e, por isso, fez aquele estrago todo, mais de 50 milhões de mortos, podendo-se admitir que a letalidade foi extraordinariamente alta devido às péssimas condições de higiene e de habitação do mundo de 1918, em que não havia medicamentos, e que muita gente pode ter morrido de infecções secundárias por falta de antibióticos.

De qualquer forma, pensar que essas doenças matam quem já está com a saúde comprometida, imaginando que os fortes sobreviverão, é uma forma de darwinismo social da pior espécie, beirando a ideologia nazista. As autoridades sanitárias nacionais e internacionais tem a obrigação de rastrear e monitorar a emergência dos fatores que colocam em risco a saúde pública e combater tais fatores com todas as armas disponíveis.

Li hoje um texto onde se sugeriu que o fato da OMS ter elevado a doença à categoria de pandemia e o anúncio horas depois por um laboratório suíço de que uma vacina contra a gripe H1N1 estava em fase final de pesquisa era a demonstração óbvia de que tudo não passa de uma armação para que empresas ganhem dinheiro, além dos funcionários da OMS, “esses burocratas que nada fazem de útil e ganham altos salários”, argumentos profundamente reacionários e ultranacionalista, digno de um retrógrado da mais obscura direita ultra conservadora, que com certeza também apoiou o George W Bush, quando, em oposição a tudo que havia sido debatido anteriormente, se recusou a assinar o protocolo de Kyoto sobre o meio-ambiente.

Enfim, há maluco para tudo, inclusive para defender publicamente que não há efeito estufa algum, que o aquecimento global é uma conspiração, que a pandemia não oferece perigo, e que apenas os fracos morrerão e os fortes, ricos e bem alimentados não. E que a ONU é uma inutilidade.

Bem, é óbvio que estou ironizando, e é bom deixar claro antes que algum desavisado venha a citar-me como apologista dessa loucura. Não, temos que combater efetivamente a doença, vacinar todo o mundo e evitar os desdobramentos dessa emergência, pois tudo o que o vírus precisa para fazer uma mutação é contaminar o maior número possível de pessoas, e que essas mutações virais que poderão gerar um super-vírus no futuro. Isso não é uma ilusão e poderá acontecer se fraquejarmos em nossa ação coordenada.

Portanto temos que cuidar de todo mundo, fraco, forte, rico, pobre, alegre ou triste, sendo claro que os pobres têm que receber atenção especial, por serem mais vulneráveis e mais numerosos.