Pensa que é fácil “fazer” 63 anos?

É um modo esquisito de dizer que se fez tantos anos. Mas são mesmo feitos, construídos dia a dia, minuto a minuto, mês a mês, ano após ano. È uma nova batalha todo dia.

Fiquei aqui para ver os ponteiros do relógio pularem dos meus 62 anos, 11 meses, 30 dias e 59 minutos para dentro dos 63. Fiquei de olhos colados no relógio para sentir o segundo exato da virada. Mas não senti nada. Nenhum impacto como se esses anos todos me atropelassem, nenhum peso extra foi me acrescentado e nenhuma ruga nova foi formada. Também os meus fios de cabelos brancos não aumentaram. Nada exterior foi modificado. Nada! O que senti foi um grande aperto no peito, uma solidão sem tamanho, a falta que fez o abraço de todos, a tristeza da ausência dos meus filhos, netos, amigos, a imensa saudade daqueles que nunca mais verei e coisa e tal. Tão longe estão.

Muitas mulheres mentem a idade, ou porque sentem vergonha ou não gostam da idade real que têm e a ocultam. Mas eu não minto e nem oculto a minha idade, antes tenho prazer em dizer que fiz hoje 63 bons anos... De alegrias, tristezas, dores, frustrações, desilusões, como todo mundo. O que aprendi? Aprendi que não aprendi coisa nenhuma! Que ainda caminho insegura pelo caminho que eu própria escolhi. Ou melhor, aprendi que as pessoas ditam regras, criam bússolas, indicam o caminho da felicidade, mas eu não quis seguir nenhuma regra e ir por caminhos que outros indicaram. Quis desbravar o meu próprio caminho e cometer meus próprios erros. Cometi todos os que pude e me arrependo de não ter cometido mais. Se tivesse escolhido seguir os conselhos dos outros teria evitado muitas lágrimas, mas não teria a ventura de descobrir a doçura que é viver com os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Não teria encontrado as pessoas que hoje conheço e que me são tão caras. Quando me diziam “não vá por aí”, era bem por aí que eu ia... Sonhava de noite e executava de dia, para de novo sonhar e sonhar...Ainda sonho andar por caminhos ainda desconhecidos.

É muito difícil hoje em dia “fazer” 63 anos. Senti que não tenho mais a vida pela frente como dizem aos jovens. Também nem tenho mais metade da minha vida para viver. Então, quantos anos ainda vou viver? Não sei e é bom que não saiba. Como viveria sabendo que vou morrer amanhã? Melhor nem pensar! Mas dá-me uma alegria danada quando sinto meus filhos que de longe telefonam, dos amigos que até se anteciparam e me felicitaram. Do meu amigo querido que estava a trabalhar a noite, mas saiu correndo do trabalho e veio para casa exatamente a meia noite para falar ainda um pouco comigo e me alegrar? Que direi dos que dizem, “não sei fazer PPS, mas te mando de presente um filme, um texto lindo, uma paisagem, uma mensagem”... E da minha irmã postiça que fez presentinho, me mandou, colocou endereço errado e para trás voltou? Mandaram-me até euros! Não, não foi um milhão, mas... Não, sem comentários...Isso é amor verdadeiro que posso sentir, mesmo eles estando longe, alguns do outro lado do oceano, mas que não viram nem distância, nem obstáculos. O que conta não são os presentes, mas a presença de cada um no meu coração. É estar no coração de cada um de vocês. Amigos...guardo-vos dentro do meu coração como se fossem jóias raras... Cada um é especialmente querido e cada um tem seu lugar na minha vida. Parece brincadeira, mas os votos de felicidades dos amigos, é o impulso que preciso para seguir em frente, é o apoio, a terra firme, é o que me fortalece.

O dia de hoje é um marco de alegria na minha vida, porque nunca imaginei que fosse chegar até aqui contando tantas vitórias. Toda vez que começamos uma nova etapa de vida, pedimos a Deus que nos aprimore, que nos transforme, que não cometamos mais os mesmos erros, enfim, que sejamos diferentes de tudo aquilo que odiamos em nós, mas que Ele nos capacite a viver bem os dias que nos restam.

Quero viver cada dia como se fosse o último, ou o primeiro. Pois cada novo dia é mais um dia, onde deverei pintar nele as cores que eu quiser. Não quero mais pintar dias cinzentos, nem nebulosos, muito menos dias frios.

Mesmo quando chover, saberei que após a chuva, virá o arco íris e me alegrarei.

Sei que minha casca já não está mais tão apresentável como dantes, nem tão boa para se ver e admirar, mas é a única que tenho e ainda a quero usar por um bom tempo e para isso preciso cuidar bem dela para que dure o tempo necessário. Li um dia destes que o que vale é o que está dentro e não o que vem por fora. Um jeito carinhoso de nos alegrar e nos fazer esquecer de que já não somos uvas, mas “passas”.(Adoro uva passa) Uma xícara de porcelana pode abrigar um café horrível de se beber. Como já não tenho uma bela xícara, preciso ter um bom café para oferecer. Serei tudo aquilo que posso. Hoje peço a Deus que ainda tenha bons olhos e que vejam além do horizonte. Que meus pés ainda me levem onde eu queira ir e que minhas mãos trabalhem para que não seja pesada para ninguém. Mas que se tudo isso não for possível, que eu tenha humildade para aceitar as provações que possam vir e dar graças a Deus por tudo, por cada dia, cada amigo que queira estar comigo, pelos filhos e netos e bisnetos que hão de vir. Vi minha terceira geração nos olhos da Luisa, minha jóia preciosa. Meus filhos, meus tesouros, a minha crença de que Deus existe e é bom. Meus netos, lindos e saudáveis, a prova de que Ele cuida de mim e me ama. Minha mãe, que me guarda e que por mim ora todo dia e que mesmo que eu esteja naqueles dias de inverno fechado, pede a Deus que tenha muita paciência comigo, pois sou a sua filha, que ela ama e cuida. Meu irmão, que se esquece de datas, mas que nunca esquece de dizer que me ama. Minhas noras, queridas a quem confiei meus filhos. Ex noras? Para mim não são ex, são agora apenas amigas, boas amigas.

Parece que falo de tantos e tantos amigos não é? Mas não! São poucos, mas são tão queridos e fortes que viraram um exército!

Não sei se ano que vem estarei aqui com vocês, (não estou fazendo chantagem) na mesma data, completando mais uma etapa, mas que isso importa se estou aqui hoje? Amanhã a Deus pertence e basta a cada dia o seu mal.

Já fiz três filhos, plantei árvores e agora só me falta escrever um livro...

Que posso dizer mais a não ser que até aqui me ajudou o Senhor e por isso estou alegre?

Pensa que é fácil “fazer” 63 anos??? São muitos tijolos para construí-los...e todos feitos manualmente...

A todos os meus queridos, um beijo com todo meu carinho e amor.

Amo vocês! Muitoooooooooooooooooooooo.

Vilma Nunes

Primavera, 01/04/2009