Carta de uma detenta...

Como advogada criminalista, recebo inúmeras correspondências de detentos.

Algumas delas chegam a emocionar e, passamos a enxergar os excluídos (é assim que eu os chamo), de forma mais humana, vez que por mais que tenham cometidos crimes por vezes bárbaros, são pessoas detentoras de um sofrimento interior sem precedentes, que por mais que tenham cometido delitos contra outrem e contra a sociedade, merecem o mínimo de dignidade, pois que são serem humanos encarcerados e não animais enjaulados.

Segue um poema recebido de uma detenta:

DESEJO QUE A VIDA SE TORNE UM CATIVEIRO DE OPORTUNIDADES PARA VOCÊ SER FELIZ...

QUE NAS SUAS PRIMAVERAS VOCÊ SEJA AMANTE DA ALEGRIA.

QUE NOS SEUS INVERNOS VOCÊ SEJA AMIGA DA SABEDORIA.

E QUANDO VOCÊ ERRAR O CAMINHO RECOMECE DE NOVO.

POIS ASSIM VOCÊ SERÁ MAIS APAIXONADA PELA VIDA.

E DESCOBRIRÁ QUE:

SER FELIZ NÃO É TER VIDA PERFEITA.

MAIS USAR AS LÁGRIMAS PARA IRRIGAR A TOLERÂNCIA.

USAR AS PEDRAS PARA REFINAR A PACIÊNCIA.

USAR AS FOLHAS PARA ESCULPIR A SERENIDADE.

USAR A DOR PARA LAPIDAR O PRAZER.

USAR O OBSTÁCULO PARA ABRIR AS JANELAS DA INTELIGÊNCIA.

Pois é, somos seres humanos dotados de preconceito. O preconceito é natural no caráter de qualquer pessoa, porém temos de tentar não nos confundirmos com julgadores. Devemos deixar os marginalizados serem julgados por seus crimes pelo Judiciário, porém, nós, que não detemos o poder jurisdicional do Estado, não temos o direito de julgar.

Temos que tentar enxergar o condenado na órbita do ser humano.

O crime cometido será julgado de uma forma ou de outra.

O ser humano cometedor de crimes será penalizado de uma forma ou de outra.

Resta a nós, tentarmos enxergar a alma dos condenados, para que, se pudermos, tentarmos ajudá-los a se reintegrar.

Violência gera violência.

Preconceito gera preconceito.

Temos de deixar o ato de julgar a quem de direito.

Nada mais.

CARRIE BRADSHAW
Enviado por CARRIE BRADSHAW em 04/03/2010
Código do texto: T2119551