No Fim

Já fiz uso de tudo que o mais cobiçoso dos homens jamais imaginaria ter. Tive dinheiro, mulheres, casas, empregados e, aos montes, bajuladores. Fiz meu nome, fiz minha fama... fiz até um mundo novo para mim, tendo-me como seu centro; fonte de vida e sustento... Ah! Quanto tempo passei sendo o sol; quase um deus, tendo muito mais que se curvavam pra mim do que para os seus deuses. Eu não fazia mágicas duvidosas, mas minhas festas e orgias traziam cada vez mais súditos cegamente fiéis.

Mas tudo passa... Tudo passa... Nada fica. Vida acaba; dinheiro acaba; fama se ofusca diante de uma nova fama; fãs encontram outros ídolos; fiéis... Ah! Incrédulos fiéis... tratam de arranjar outro deus quando o seu sucumbe...

E cá estou eu agora: O homem que comprou coisas e pessoas. Que criou um império e fez-se faraó. Que pagou os escravos com festas. Que adotou os lacaios atrás de suas sobras, se encontra entre a vida e a morte numa cama de hospital. Hoje, em meu estado, vejo que nesse mundo moderno tudo compra-se: amores, amigos, confiança, respeito, fé, fama, poder... e por poder entenda poder irrestrito! Fazemos com a riqueza o que quisermos e não deixamos que façam o que não queremos; mandamos e desmandamos em tudo e em todos.

Mas de todas, existe uma coisa que não podemos comprar... A maior preciosidade de todas: o tempo. E o simples passar do tempo deteriora tudo o que é construído e conquistado. E agora que meu tempo está no fim, vejo que dinheiro, mulheres, casas, empregados e bajuladores não me pertencem mais, pois não eram fiéis a mim, mas à minha riqueza. Tolo fui eu que pensei fazer escravos com meu dinheiro, quando na verdade, o mundo era dele, as mulheres eram dele, o deus era ele e os súditos eram dele, enquanto eu, enfim, era apenas mais um de seus escravos.