Do reino animal - 1

VOZES DOS ANIMAIS

- O homem fala, a vaca?

- A vaca... monge, ora, e o leão?

- Ronge.

- Não, ele range.

- Não seria ringe? O leão ringe.

- Isto está mais para o som do cavalo.

- O cavalo galopa, tropeia. Não tem o tal tropel?

- Vamos começar de novo.

- Certo, a vaca monge, o leão... runge?

- Rungido do leão, sei não....

- O gato?

- O gato pia. Piau, piau.

- Este som “au” é do cão.

- O cão rusna ou ronsna.

- Acho que quem pia é o papagaio.

- Piaurrupaco? Não me parece.

- A abelha?

- Zambe ou zumba. Faz qualquer coisa com “zum”.

- Quem zumbi é o zumbi.

- Bobagem. Assim, o urso ursa, o burro burra...

- Arre!

- Quem arre?

- Eu. Apenas suspirei. O tempo urge.

- Não seria o leão? O leão urge.

- Já falamos dele. Ele... ele... ronge?

- E o tal ganido, não seria do leão?

- O porco é quem gane.

- Espera. O porco grane, ou seria o rato?

- O rato roncha ou gruncha.

- Voltando ao cavalo. Além de galopar, ele não guincha ou rin­cha?

- Tem, sim, o coaxar dos cavalos ou o coxear dos cava­los.

- Está complicado... e os lobos? É certo que eles ouviam.

- O quê?

- Ouviam.

- O que eles ouviam? O uivar dos sapos?

- Ah, sim. Os lobos uivem. Os sapos rufam.

- Creio que quem rufa são os tambores.

- Não, os tambores bufam – o bufar dos tambores.

- Quem sabe, o arfar dos tambores?

- E os veados?

- Bom, aí depende. Podem gemer...

- Estamos confusos. Só em relação à vaca é que não te­mos dú­vidas.

- Isso! A vaca MONGE!

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O Homem e os Bichos

O Cordeiro, ou seria Carneiro? Não sei, tanto faz; era um marido cigarra. Com a sua sabedoria de coruja, nas férias dos filhos, como era casado com uma jararaca, mandava a família prá fora e ficava livre como um passarinho.

Neste período, deixava de dormir com as galinhas e saía pela noite como um cão sem dono, bebendo feito um gambá, o que não era problema, porque tinha uma saúde de vaca premiada, era forte como um touro, mas no fundo manso como as pombas, apesar de algumas vezes ser tachado de amigo urso pelo o que, pagava o pato.

Não tinha lá muita sorte com as frangas porque não era propriamente um cara bonito. Tinha cabeça de bagre, olho de lince, um galo na testa, boca de siri e dente de coelho, tanto que quando insinuavam que ele era feio, chorava lágrimas de crocodilo como um bezerro desmamado.

Na véspera do final das férias, estava naquela de, o que cair na rede é peixe, ganhou uma gata e foi com ela para um restaurante, andando a passo de cágado porque tinha pé de cabra, mas acabou caindo feito um patinho.

A mesa, como ele era um bom garfo - tinha estômago de avestruz - pediu um engasga-gato qualquer, o que aborreceu a sua parceira e ela falou: vá amolar o boi e pentear macaco. Conclusão: deu com os burros n'água, mas não ficou uma onça.

No dia seguinte à chegada da família, com sua memória de elefante, macaco velho, lembrou-se do aniversário da mulher e sentiu um formigamento pelo corpo. Mas como tinha sangue de barata, não se exasperou, não teve grilo.

Com uma cara de cachorro que quebrou a panela, pensou em dar um presente para ela. O que poderia ser? Talvez "Marimbondos de Fogo" ou o "Rock da Cachorra". Na dúvida, deu zebra!

Ah! Ia me esquecendo. Veado ele não era.

Com mil caracóis!