A redação que mais me "'trouxa'" glória e humilhação

Inscrevi-me no vestibular para um consórcio aqui do Rio, onde a UFRJ (universidade Federal do Rio de Janeiro) ministra os cursos. Ansioso, fui mal na prova e decidi que era a hora que jogar todas as fichas que tinha em mãos para entrar. Concentrei-me na redação. Era tudo, ou nada. Fiz, refiz, e mais uma vez. Nunca estaria bom para meu objetivo, porém deveria entregá-la.

Nunca havia feito vestibular antes e a única coisas que ouvia após fazer uma redação como aquela, onde eu dava tudo de mim era: "No momento, você não se adapta ao perfil da vaga que temos, aguarde outra oportunidade." Por isso, tive medo. Mas não tinha outra escolha senão tentar. E, após as revisões, terminou dessa forma:

Tema: Como você leva a sua vida.

Objetiva e diretamente falando, diria que levo minha vida no bolso. Digo isso, pois, gosto de ter o controle de todos os meus passos. Apesar de ser adepto da "filosofia da vaselina", como é vulgarmente chamada a flexibilidade, não abro mão de meus sonhos, desejos e objetivos.

Para ter uma visão geral sobre como levo minha vida, basta criar um quadro mental do que tem sobre minha mesa nesse momento. Canetas e lápis, pois gosto de escrever e desenhar; livros de anatomia, já que estudo radiologia; um exemplar de "Cai o pano", sou fã de Agatha Cristhie; um pequeno quadro com a fotografia de uma pessoa amada e, obviamente, como todo músico, apaixonado por sua arte, uma modesta coleção de cd´s.

É preciso concordar, contudo, com o fato de que ter controle de como leva sua vida está longe de significar não errar. Em se tratando de domínio de si, levo em conta os imprevistos e as reviravoltas frequentemente ocasionadas por descuidos e mal-entendidos possivelmente desenvolvidos.

Um objetivo em minha mente: a profissionalização. Um desejo: independência financeira. Vários sonhos, entre eles: escrever um livro.

Isto posto, concluo, afirmando que levo minha vida de forma tranquila. Tranquilo estou, pois, ao sair de casa, toda manhã, averiguo se se nada esqueço. No pulso, o relógio, no bolso traseiro da calça, a carteira, no dianteiro, as chaves e no bolso da camisa, na altura do peito, a vida.

Após isso, pensei, ou eles me aprovam ou me mandam para um hospício. Usei muita linguagem figurativa para uma redação tão séria e importante como aquela. Falei de mim, de meus sonhos, abri meu coração. Cheguei a chorar enquanto escrevia, assim como ainda choro quando leio. Não criei uma redação, esbocei minha vida. E foi por ela que concluí, quando não encontrei meu nome na lista dos classificados, que não havia conseguido nada abrindo meu coração. Mais pranto. O "muleque" pra chorar!

O mais cômico da história ainda está por vir. Alguns meses depois, quando já estava me preparando para o próximo vestibular Cederj, navegando no site, decidi, por mero acaso, espiar a lista de classificação novamente. E lá estava ele. Brilhando sozinho na sexta colocação: meu nome. Como assim? Esbravejei indignado. E foi indignado que enviei um e-mail à comissão do vestibular pedindo boas explicações para que meu nome aparecesse na lista que há alguns meses nem sonhava em pisar.

Educada e cortesmente (quero aliás agradecê-los, pois fui muito grosso no primeiro contato e ainda assim, me atenderam com altíssima dignidade) me explicaram que eu era uma animal que havia confundido o resultado do vestibular 2010.1 com o que fiz 2010.2, mas claro que não com essas palavras. Pode? Achei que fosse por recursos, anulação de questão ou qualquer outra coisas que justificasse minha falta no dia da matrícula. Mas, não. Eu fui um imbecil mesmo.

Agora, vou explicar por que a redação me enalteceu. Se foi por ela que eu me persuadi que não havia passado, enganado estava, pois foi justo o contrário. Realmente fiz uma prova muito ruim. Tanto na objetiva quanto na específica, de Ciências Biológicas. Porém a nota da redação me salvou. Ela mesma. No mesmo estilo "viagem" que sempre fiz em seleções para empresas privadas e sempre recebi um não como resposta me colocou na universidade. Quer dizer, não colocou por que não cheguei a fazer a matrícula. Perdi o prazo. Mas, além de todo o aprendizado sobre humildade e saber reclamar o que é seu com respeito (ainda bem que fui respeitoso), acompanhar os resultados de concursos, aprendi a melhor lição que ficará para vida toda e que pretendo passar para meus futuros alunos de ciências: eu sou capaz.

P.S.: Deixa eu me gabar só um pouquinho pra compensar a vergonha. A nota foi 100,00. Rs...

Prima
Enviado por Prima em 26/10/2010
Reeditado em 26/10/2010
Código do texto: T2578709
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