Disse o Mahatma Gandhi: “Uma vida sem religião é um barco sem leme”. Seu conceito de religião, contudo, era menos relacionado a estruturas organizadas em ritos e dogmas e mais voltado para a espiritualização. Ele mesmo disse também que "a fé – um sexto sentido – transcende o intelecto sem contradizê-lo." Isso induz a crer que podem existir religiões cientificistas ou ciências religiosistas (! ou ...?).
Há bastantes cientistas que são mais espiritualistas do que muitos religiosos, e entre estes há muitos que são mais materialistas do que muitos cientistas. Isso porque a realidade espiritual não tem a ver exclusivamente com a Religião, da mesma forma que a materialidade não tem a ver exclusivamente com a Ciência. Quando se diz que a Ciência é contra alguma questão específica de espiritualidade, há de se perguntar: que ciência? Qual entre os vários ramos da ciência? E que questão específica é essa?
Normalmente os cientistas são contra as religiões, em que pese ao fato de muitos deles serem religiosos ou deístas, a seu modo. Igualmente, os religiosos são contra as ciências, embora seja notório o fato de muitos deles serem cientistas.
A Ciência em si não é contra a Religião em si. Ambas, a Ciência e a Religião, cada uma com seus objetos de estudo, métodos e procedimentos de justificação, são formas de relacionamento dos homens com o Todo Universal, que se manifesta pelas fenomenologias natural e sobrenatural.
A Ciência e a Religião nasceram praticamente juntas, no surgimento dos primeiros homines sapientes na Terra. Senão parentes, são pelo menos conhecidas e até íntimas uma da outra, ligadas talvez pela ponte da Filosofia.
Disse Helena Petrovna Blavatsky (esoterista russa (1831-1891), uma das fundadoras da Sociedade Teosófica, doutrina espiritualista): “Não existe religião acima da Verdade.” Eu acrescentaria que também não existe ciência, filosofia, sabedoria popular, cultura nem qualquer forma de saber humano acima da verdade.
Entendamos aqui “religião” como campo de explicação dos fenômenos naturais e sobrenaturais (epifenômenos) através de imagens estanques apontoadas nos ensinamentos de milenares textos sagrados, nas quais devemos crer, sem questionamentos, por pura fé cega ou “fé de carvoeiro”.
Da mesma forma, entendamos aqui “ciência” como campo de abordagem dos mesmos fenômenos, através de pesquisas dinâmicas e mutatórias, baseadas apenas em métodos racionalmente humanos.
 
A separação entre a fé e a razão é o verdadeiro elo perdido no conhecimento histórico da humanidade.
Há, contudo, religiões, filosofias, doutrinas e ciências mais abertas e interativas com os fenômenos da natureza. Estas geralmente são mais adiantadas na aproximação ou interpretação das verdades cósmicas, e permitem-nos questionar e crer, a partir de uma fé raciocinada ou lógica. Têm promovido uma recuperação do elo perdido.
 
PONDERAÇÃO DO ENXADRISTA E BARBEIRO FILISTO, no final de um colóquio de livres-pensadores, na Praça das Nagôs, em Lençóis(BA), no início de 1979:
A fé raciocinada ou consciencial é muito mais convincente do que a fé cega, especialmente porque calcada na lógica, na vivência de experiências diretas, por convicção a partir de estudos ou a partir de reflexões e meditações livres ou desideologizadas.
É possível haver uma fé raciocinada, não religiosa, mas também não necessariamente científica, quanto aos mesmos fenômenos naturais que foram “apropriados” ou “patenteados” pelas religiões e parcialmente analisados pelas ciências, desde o começo das eras.
Aliás, não fosse essa “apropriação indébita” da Religião, os atributos de Deus seriam mais bem estudados e referenciados também pela Ciência e pela Filosofia.
Porém, a fé raciocinada ou lógica só é verdadeira se puder desafiar a religião dogmática ou a ciência materialista para um debate aberto e partidariamente neutro, frente a frente, sem medo de réplicas quodlibetárias, em qualquer arena, em qualquer época da humanidade. [É uma paráfrase da seguinte frase de Allan Kardec (1804-1869), o codificador da Doutrina Espírita, no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”]
 
O mal de alguns postulados religiosos é conceituarem o Todo a partir de sua visão absolutista particular, baseada mais na fé e na moral. E o mal de alguns postulados científicos é conceituarem o particular a partir de sua visão relativista do todo, baseada mais na razão e na análise dos efeitos. [O relativismo clássico nega a existência de verdades universais.] E esses males provocaram a separação das duas amigas (ciência e religião). Isso pode ter ocorrido a partir de quando os próprios cientistas da História classificaram a cultura e o modus vivendi dos primeiros seres humanos como parte da chamada “pré-história”. Foi quando certamente os últimos homines sapientes daquela época deram lugar de honra aos primeiros homines opinandes e suas duas principais derivações: homines cientifĭci e homines religiosi. E isso aconteceu num curto espaço de tempo.
É o “elo perdido” definido por Charles Darwin, que lhe impediu de aprofundar seus estudos da evolução dos seres humanos, os quais, como unidades fisioespirituais, estão fora de qualquer classificação zoológica. [Estão fora principalmente daquela famosa classificação: Reino (Animalia), Filo (Chordata), Subfilo (Vertebrata), Classe (Mammalia), Ordem (Primates), Família (Hominidae), Subfamília (Homininae), Gênero (Homo) e Espécie (Homo sapiens)]. Darwin percebeu que houve um intervalo de tempo muito rápido na história da Terra, em que demos um salto de crescimento e de consciência muito grande. O que foi que houve com a gente nesse curto período? Deus é quem sabe!
 
De qualquer forma, a Ciência progride mais depressa do que a religião, por causa principalmente do seu princípio relativista, que lhe afasta o receio de errar e de corrigir seus erros. A Ciência tem uma humildade intrínseca. O jogo sucessivo das hipóteses, teorias e leis e suas revogações e revisões sem fim lhe permite ser sempre flexível. E assim ela vai avançando.
Já a Religião, montada sobre uma dogmática rígida, normalmente leva séculos para fazer uma pequena reforma em seus postulados, quando não tem mais jeito mesmo, quando a evidência dos fatos já está suficientemente impregnada nas mentes coletivas. Seja como for, muitas religiões ocidentais tradicionais têm feito retoques significativos em algumas de suas interpretações sobre a natureza espiritual. Serão por acaso novas inspirações divinas para influenciar a ajustes de conduta religiosa condizentes com a nova era que se aproxima? Tomara!
Mas é no terreno fenomenológico que a Ciência tradicional empaca. Normalmente, os métodos e os instrumentos de pesquisa científicos não são preparados para analisar leis da natureza oculta que se manifestam no campo sensorial (principalmente quando se trata de pesquisas comprometidas com ideologias político-econômicas).
Entre uma forma e outra de enfrentar as chamadas realidades ocultas, vivem os magos, esotéricos, alquimistas, médiuns, místicos, bem como os filósofos, cientistas e religiosos espiritualistas, universalistas ou holísticos. Normalmente estão bem à frente das ciências materialistas e das religiões dogmáticas, em nível de convicções, porque bebem de fontes secretas ou de fontes provenientes da própria espiritualidade superior. São mais felizes por isso, embora em muitas épocas e lugares muitos tenham sido taxados como loucos ou como bruxos, tendo sido inclusive condenados à fogueira inquisitorial só por isso. Ainda hoje são comumente vistos com desdém ou com algum muxoxo.
Sempre existiu uma grande lacuna no enfrentamento racional dos fatos que fogem à normalidade ou à naturalidade convencionalmente admitida pela sociedade.
Só de algumas décadas para cá é que têm surgido algumas ciências especializadas nesses fenômenos, como por exemplo, a Psicotrônica (estudo científico da conexão inter-relacional entre a consciência, a matéria e a energia), a Psicologia Transpessoal (ramo da Psicologia que estuda a relação da consciência com outras realidades e seus efeitos na melhoria individual), a Projeciologia (estudo das projeções energéticas da consciência, também chamadas de desdobramento e projeção astral), a Transcomunicação Instrumental (ramo da Comunicação eletrônica espiritualista que experimenta e estuda contatos com espíritos desencarnados através de aparelhos eletrônicos e computadores especiais), a Psicobiofísica (superciência que integra Psicologia, Física e Biologia no estudo dos padrões de consciência e de energia relacionadas com os seres humanos, de fontes diversas e deles mesmos), a terapia de vidas passadas e outras.
A grande base de sustentação da Religião clássica (mas ainda imperiosa) é o fato de que ela tem explicação para tudo, inclusive para os fatos da paranormalidade ou da sobrenaturalidade. Nestes casos, se um fato ou fenômeno se coaduna com seus dogmas ou interesses, ele é atribuído a Deus, a um milagre, a uma revelação de Deus, obra do divino espírito santo ou de algum de seus santos canonizados. Do contrário, a explicação é de que é obra de Satanás, do Diabo ou do Demônio. E ponto final. Está explicado.
De qualquer forma, muitos fenômenos da natureza cósmica ou espiritual são interpretados pelas religiões, ainda que a sua maneira mítica, o que costuma dar para o gasto meditativo de seus seguidores. Atrás de todo mito há sempre algum fundo, senão da Verdade, mas de alguma verdade.

A realidade dos fatos universais está aí, eterna, imponente, sempre desafiadora, independente e acima de conceituações ideológicas, estas sempre limitadas, imprecisas e imperfeitas no que se refere à completude do que tenta explicar e fundamentar.
O que importa para nós, por ora, é mais seguirmos a Jesus, a Verdade encarnada, o Grande Revelador das verdades universais que bastam ao nosso adiantamento moral, porque baseadas principalmente no amor fraterno.


O amor é a verdadeira Verdade que nos concerne devotar neurônios e principalmente boas ações no atual estágio evolutivo planetário. Trata-se da verdade do amor em Cristo. Ele é o Cientista dos Cientistas, o Teólogo dos Teólogos, o Filósofo dos Filósofos. Aliás, Ele é a própria Verdade. É a Ele, sim, a quem devemos seguir os ensinamentos, irrestritamente, sem exceções, sem questionamentos, sem perda de tempo com elucubrações científicas, teológicas e filosóficas, mesmo considerando suas grandes utilidades históricas e ainda atuais. O próprio amor crístico pode ser refletido sob essas três grandes formas de saber e pode ser motivado por elas, ainda que tal amor só exista em sua plenitude, quando  partido não de reflexões cerebrais, mas de sentimentos fraternos espontâneos.
 
Já que o tempo transicional de todos nós é chegado, e está curtíssimo, vamos dar prioridade ao amor crístico, ainda que inicialmente a partir de conscientizações racionais. ["Qualquer maneira de amor vale a pena."] Depois do advento dos tão esperados novos céus e nova Terra, aí, sim, poderemos voltar a nos preocupar em aquecer nossos neurônios com questões intelectuais. Por ora, aqueçamos apenas uns aos outros com o cachecol da caridade fraterna e intersolidária, que pode ser também em forma de oferta de um cobertor, um caloroso abraço, um consolo amigo, um gesto bom qualquer, anonimamente, samaritanamente. Jesus, o Guarda Noturno Divino e Anjo Protetor das Madrugadas, agradecerá. A luz que aquece é dEle. Mas Ele espera que nós acendamos o archote. Tendes em mão o fósforo?

 
Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 15/02/2011
Reeditado em 31/01/2014
Código do texto: T2794661
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