Breve Ensaio Sobre a Alienação do Trabalho

Quando Marx analisa a sociedade burguesa ele parte não do indivíduo nessa sociedade mas da própria sociedade para, então, chegar ao indivíduo; mas não o indivíduo abstrato, o “cidadão”, e sim o indivíduo real na sociedade de classes: o trabalhador de um lado e o burguês, de outro.

A infelicidade do homem moderno, do trabalhador, provém de uma perda ou alienação concreta dos seus meios e produtos de trabalho, meios e produtos esses que são expropriados pelos que dominam, pela burguesia. Provém, ainda, do fato de esse trabalhador não dominar o seu trabalho mas sim, ser dominado por ele e pelo que ele mesmo produz, Marx identifica esse fenômeno como o fetichismo da mercadoria, a reificação que não se limita apenas as coisas mas aos próprios homens.

Melcíades Pena, na sua apostila “O que é marxismo”, diz que alienação “quer dizer que o homem está dominado por coisas que ele mesmo criou. Alienação quer dizer que o homem projetou partes de si mesmo, que partes de si mesmo se transformaram em coisas, e que essas coisas dominam o homem”.

É o que vemos hoje, por exemplo, em qualquer fábrica. Os trabalhadores chegam ao trabalho em meios de transporte que não lhes pertence embora, muitas vezes, paguem, e bastante cara, por isso. Também não carregam consigo nenhuma caixa de ferramentas ou máquina produtiva. Chegam de mão vazias para utilizar ferramentas e operar máquinas que também não lhes pertence, que são dos patrões.

Esta primeira separação, ou primeiro aspecto da alienação do trabalho, entre o trabalhador e seus meios de trabalho ou de subsistência, ocorreu de forma brutal e generalizada com o início do capitalismo. Os servos foram expulsos de suas terras, os artesãos despojados de suas ferramentas e transformados em trabalhadores “livres” e “iguais”, mas apenas no sentido de serem explorados pelos patrões.

Como os meios de produção passam a pertencer aos patrões, são eles quem determinam os ritmos e os processos produtivos. Daí, visto que é pelo trabalho que o homem transforma a natureza, produz cultura e se socializa mais, então, podemos concluir que no meio em que o trabalhador se encontra lhe é totalmente desmotivador, por que os trabalhadores não vão as fábricas para utilizar suas mentes num processo criativo, nem para aplicar sua sabedoria prática na melhoria desses processos produtivos e no avanço da humanidade. Nem se interessa por isso. Ele está lá para garantir seu salário no fim do mês, sua sobrevivência.

Essa sabedoria também lhe é arrancada. Fica confinada aos trabalhadores intelectuais (que nem por essa condição deixam de ser alienados posto que sua produção também é determinada por leis e lógicas de mercado que lhe são externas e estranhas e que reproduzem os interesses do capitalismo) engenheiros, técnicos e cientistas nas universidades que estudam durante anos para que o conhecimento da humanidade fique concentrado numa minoria. Essa é a divisão entre o trabalho manual e o trabalho intelectual.

Mas os patrões não desconhecem a existência dessa sabedoria operária e utiliza-se desta para expoliá-los ainda mais, por isso eles criam os círculos de qualidade, implantam caixas de sugestões, oferecem prêmios por elas, inventam ações proativas . Hoje, com a automatização e tecnologização cada vez maiores, há uma grande redução do trabalho braçal, então é importante para o burguês expropriar a mente do trabalhador e retirar dele tudo que sabe.

A este só resta trabalhar para sobreviver, o que era, então, fim, ou seja, o trabalho como forma de libertação, desenvolvimento e humanização do homem, transformou-se em meio de opressão, de negação e de insatisfação crescentes; o trabalho não traz um significado em si, portanto não tem um fim mas torna-se um meio de sobrevivência do trabalhador e apenas isso.

Marx retratou essa situação lá no século 19, mas que cabe inteiramente em nosso século 21, pois o capitalismo subsiste e se torna tanto mais ameaçador para a existência da humanidade quanto cresce em forças e domínios.

Segundo Marx “...o trabalho é algo externo ao trabalhador, isto é, não forma parte de sua essência e, portanto, o trabalhador não se afirma em seu trabalho,mas se nega; não se sente á vontade, mas desgostoso, não desenvolve suas livres energias físicas e espirituais, mas mortifica-se. Por isso o trabalhador só se sente em casa fora do seu trabalho, enquanto que no trabalho se sente fora de casa. Recobra sua consciência quando não trabalha, e se trabalha não é ele. Por isso seu trabalho não é voluntário mas compulsório, forçado. Por isso não representa para ele a satisfação de uma necessidade, mas somente um meio de satisfazer necessidades estranhas a ele.”

A separação do homem de seus meios e processos produtivos tem como conseqüência um terceiro aspecto da alienação: a separação do homem de seu produto de trabalho. Tudo aquilo que é produzido é imediatamente expropriado pelo burguês. O produto do trabalho é, então, transformado em mercadoria pelo patrão que a utiliza como fonte de lucro ao comercializá-la em lojas, supermercados, shopping-centers, internet etc. Os produtos daquele trabalho feito pelas mãos do trabalhador gera bilhões ao patrão e um mísero salário ao trabalhador que realmente o fez. Os burgueses patrões então, utilizam seus bilhões para construir mansões, comprar aviões, barcos de luxo, viajam ao exterior para fazer compras, desperdiçam o trabalho humano em inutilidades.Mas também utilizam os bilhões conseguidos pelo trabalho alheio em artigos para a guerra para que possam continuar a ampliar e aprofundar sua exploração.

Já o trabalhador recebe uma ínfima parte do valor produzido por ele. É o seu salário, na forma de dinheiro, que pode ser trocado por todas as demais mercadorias; mercadorias essas que são produzidas por ele, mas não lhes pertence.

A repetição interminável no tempo e a massificação desse fenômeno em todos os períodos históricos, faz com que estes pensem que a razão natural do trabalho é a obtenção de dinheiro.

Assim, o homem substitui o mundo das relações sociais, das relações entre os homens, por um mundo de relação entre coisas, entre mercadorias. Relação entre seu dinheiro e as mercadorias que pretende comprar, mas que teimam em não lhes chegar as mãos.

A substituição das relações humanas pela relação entre as coisas resulta na “fetichização” das mercadorias, onde as coisas adquirem uma feição de vida e dominam os homens que não mais vivem senão em função de obtê-las. O dinheiro passa a comandar a vida dos homens que passam a ser “medidos” pela quantidade daquilo que possuem, neste ínterim, outro fenômeno, onde o dinheiro não só compra celulares, automóveis etc, mas também, as qualidades dos homens, que são externadas e podem ser compradas como qualquer outra mercadoria. Com o dinheiro o homem feio vira belo, o ignorante vira sábio, o homem vulgar torna-se refinado. Assim, o proprietário de um lindo carro último tipo, com uma bela casa e vestido de forma cara certamente só pode ser lindo e cheio de virtudes, já o dono de seu dia para trabalhar e a noite para descansar...

Hoje, por exemplo,vendem-se espremedores de frutas pela TV, e o público aplaude entusiasticamente o eletrodoméstico!

É a alienação pura, o reinado das coisas sobre os homens que as produzem!

Thais Paloma
Enviado por Thais Paloma em 22/07/2011
Reeditado em 22/07/2011
Código do texto: T3111951
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