BELOS TEXTOS ALHEIOS: POESIA & PROSA - IX

9. DIVERSOS AUTORES

PRIMEIRO LEVARAM...¹

Primeiro levaram os negros.

Mas não me importei com isso.

Eu não era negro.

Em seguida, levaram alguns operários.

Mas não me importei com isso.

Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis.

Mas não me importei com isso,

Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados.

Mas, como tenho meu emprego,

Também não me importei.

Agora estão me levando, mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém,

Ninguém se importa comigo.

[Bertolt Brecht (1898-1956), poeta e

dramaturgo alemão]

NA PRIMEIRA NOITE...²

Na primeira noite, eles se aproximam

E colhem uma flor e nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:

Pisam as flores, matam nosso cão.

E não dizemos nada.

Até que, um dia, o mais frágil deles

Entra sozinho em nossa casa,

Rouba-nos a lua,

E, conhecendo nosso medo,

Arranca-nos a voz da garganta.

E, porque não dissemos nada,

Já não podemos dizer nada.

[Vladimir Maiakovski (1893-1930), poeta

e dramaturgo russo]

PRIMEIRO ELES VIERAM...³

Um dia, vieram e levaram

Meu vizinho, que era judeu.

Como não sou judeu,

Não me incomodei.

No dia seguinte, vieram

E levaram outro vizinho,

Que era comunista.

Como não sou comunista,

Não me incomodei.

No terceiro dia, vieram

E levaram meu vizinho católico.

Como não sou católico,

Não me incomodei.

No quarto dia, vieram

E me levaram.

Já não havia mais ninguém

Para reclamar...

Em inglês...

‘FIRST THE CAME...

First they came for the communists,

and I didn't speak out because I wasn't a communist.

Then they came for the trade unionists,

and I didn't speak out because I wasn't a trade unionist.

Then they came for the Jews,

and I didn't speak out because I wasn't a Jew.

Then they came for me

and there was no one left to speak out for me.’

[Martin Niemöller (1892-1984), pastor alemão,

símbolo da resistência ao nazismo]

Texto suplementar...

'O RIO CHORA

Primeiro eles roubaram nos sinais,

Mas não fui eu a vítima.

Depois incendiaram os ônibus,

Mas eu não estava neles.

Depois fecharam ruas,

Onde não moro.

Fecharam então o portão da favela,

Que não habito.

Em seguida, arrastaram

Até a morte uma criança,

Que não era meu filho...'

[Cláudio Humberto, 09 fev. 2007]

Fort., 25/10/2011.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 25/10/2011
Código do texto: T3297093
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