Suscetibilidades

Costumamos reclamar quando cortamos um dedo, por exemplo, dizendo que, sempre batemos ali, onde dói. Na verdade, o que ocorre é que, sempre que batemos ali, dói. O fato de estar vulnerável aquela parte do corpo é que faz perceptíveis, pequenos toques, que, noutra, sequer notaríamos.

Como tendemos a uma análise simplista das coisas, tipo, dizer que a calça ficou pequena quando na verdade, a barriga ficou grande fazemos também aquela “leitura”.

Igualmente nossas almas acusam certos “cortes” quando alguém toca em pontos mais sensíveis, provocando, não raro, reações desproporcionais. Quantas vezes uma observação sincera, com o fito de ajudar é rechaçada, como se fôssemos meros intrometidos invadindo espaço alheio!

Alguns são tão melindrosos que, ao terem uma ideia contestada sentem-se como pessoas rejeitadas. Ora, como seria possível nossa edificação, sem esse intercâmbio e o contraditório?

Todos nós padecemos certa vaidade; nalgum momento, como o vaidoso do “Pequeno Príncipe” queremos que alguém bata uma mão na outra em nosso louvor.

Todavia, a oposição pode fazer mais bem que a adulação. Alguém disse: “Teu maior amigo é aquele que te fala as maiores verdades”. Salomão Desenvolveu assim: “Leais são as feridas feita pelo que ama; enganosos os beijos do que aborrece”.

Não que eu pretenda estar observando de fora; só uma possível “batida” vai mostrar quais “dedos cortados” tem minha alma. Por ser de posições claras e incisivas sou muito contestado em diversas situações.

“À priori”, minha visão quanto às críticas segue uma receita simples; a) Estão certas; então, devo rever posições, posturas; b) São totalmente sem noção, nada a ver; nesse caso, por que devo padecer se, meu crítico é que está “doente” das vistas? Nos dois casos elas não deveriam incomodar.

O que ocorre com frequência é que além do contraponto verbal, algumas vêm turbinadas por um plus emocional, do qual nem posso reclamar, pois, algumas vezes adiciono essa arma também.

Incensar com aplausos algo totalmente contrário à saúde espiritual e moral pode ser, para quem ouve, agradável como ouvir boa música; mas, mesmo essa pode ser usada para encantar serpentes.

Em suma, se permitirmos que nossa emoção incite a vontade contra a necessidade, esse triunfo do volitivo sobre o racional, na verdade é só uma derrota na arena de nosso crescimento espiritual e intelectual. No popular, hipocrisia.

Talvez seja preciosismo de minha parte querer que a arte seja tão engajada assim, fundindo o belo ao prático, que todos estejam à vontade para discordar, pois.

"Pessoalmente, estou sempre disposto a aprender, apesar de nem sempre gostar de ser ensinado." (Winston Churchill)