AI SE SESSE, ZÉ DA LUZ...

Um dia foi dito a um homem simples, que para falar de amor era preciso ter um português correto, e coisa, e tal... "Então está certo. Se isto é um desafio, eu aceito!" - provavelmente, no meu "achismo," assim deve ter retrucado. Enfim... no entanto... Não faltou em sua poesia, sinônimo e nem numeral; não faltou pronome e nem artigo definido e indefinido; e muito menos faltou, o poeta, com uso do verbo e da conjunção; menos ainda com a coesão. Ah, pudera eu escrever como ele escreveu! Quanta magia.
> Por amor, em apenas dezoito versos, esse autêntico poeta narra o conteúdo de toda uma suposta jornada de vida romântica com espantosa firmesa de propósito.
> Reconheceria a fragilidade da vida e admitiria o fim dela com naturalidade, se a mulher amada o aceitasse. E tudo estaria bem, conquanto ficassem unidos em cada momento da vida e até mesmo após a morte. Porém, se já em espírito, acaso fosse movido pelo ciúme e atendesse a um capricho dela, enfrentaria até a entidade santa, sem negar a sua natureza impetuosa.
> Pela atitude apaixonada ele poria ambos em risco de condenação ao sofrimento eterno, mas não sem antes "sacanear o velho porteiro do céu". (Esta, na minha humilde, mas traquina opinião, é a melhor parte!). Ainda assim, tudo continuaria a seu gosto, desde que permanecessem juntos até e para além do fim.
> É, de uma forma original e marcante, um magnífico pedido de compromisso. Tentar convencer a mulher amada da dimensão do seu sentimento somente com suposições, é prova de máxima transparência, brio e coragem.
> Nada foi prometido e isso é ser coerente. Assim, acredito no sucesso do intento do personagem, dadas a mestria e a simplicidade do poeta.
> Tudo em nome do Amor! Nem precisaria ser uma romântica incorrigível, para dizer SIM! Vamos apreciar?:

 
Se um dia nóis se gostasse
Se um dia nóis se queresse
Se nóis dois se empareasse
Se juntim nóis dois vivesse
Se juntim nóis dois morasse
Se juntim nóis dois drumisse
Se juntim nóis dois morresse
Se pro céu nóis assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu com insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nóis dois ficasse
Tarvês que nóis dois caisse
E o céu furado arriasse
E as virgi todas fugisse.


ZÉ DA LUZ
(também lindamente recitado pelo grupo "Cordel do Fogo Encantado")


 
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