Sobre trens e Frigidaire

Para uma criança nascida em cidade grande e criada em apartamento com os irmãos ou jogando Atari com o primo por parte de mãe, os finais de semana mais legais eram quando íamos para a casa da vovó, em Realengo. Bairro longe mas que pedíamos sempre para irmos de trem, por que a diversão já começava logo no caminho.

Lá era só festa! Ali sim soltávamos as crianças que éramos de fato. E curtíamos!

Meus avós tinham um grande quintal onde pisávamos na terra, pegávamos as plantas, sentíamos o cheiro desta terra e destas plantas. E brincávamos.

Quando chegava a época das frutas, éramos ainda mais crianças. Havia cajueiro, goiabeira de fruta branca, de fruta vermelha, mangueira e tomateiro. Todos os primos (desta vez os de parte de pai) subíamos nas árvores e competíamos quem subiria mais alto entre os galhos, mas no fim o que importava era a quantidade de goiabas ou mangas que pegávamos, por que vovó já estava esperando lá na cozinha para misturar todas elas com leite condensado e o tal "leite de saquinho" e então despejar nos tabuleiros de bolo de alumínio para congelar no antigo, pesado, barulhento e bege "Frigidaire"!

Para esquecer do tempo, íamos brincar de duendes, comandos em ação ou mesmo tomar banho de mangueira, todos pelados fazendo guerra de sabão em pó (sempre sob a camuflada supervisão da mamãe ou de alguma tia despojada, que geralmente era a que comandava a longa mangueira de borracha azul remendada).

No fim da tarde, sentávamos todos no batente da porta ou no parapeito da varanda e comíamos - finalmente - os tais sorvetes, que até hoje não encontro mais com o mesmo sabor de manga, goiaba branca ou mesmo vermelha. Talvez falte o ingrediente vovó, talvez o ingrediente infância com os primos ou talvez sobre apenas o tempero da nostalgia e saudade.

Raphael Schröder
Enviado por Raphael Schröder em 11/08/2012
Reeditado em 11/08/2012
Código do texto: T3824435
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