Os livros e nós

O livro é uma casa. Umas são maiores, outras menores; umas mais simples, outras mais requintadas; podem ser casas claras, escuras; casas felizes, tristes; casas santas ou mansões mal assombradas. Algumas são repletas de segredos, outras abrem as portas da sala para todas as suas mais profundas intimidades.

Escritores são arquitetos. Uns são melhores, outros piores; uns constroem projetos que fazem história, outros se imbuem de trabalhos mais simples. Uns enriquecem, outros não; uns preferem monumentos mais imperativos, outros tendem à simplicidade; e como sempre é, uns trabalham por amor, uns trabalham por dinheiro.

Mas mais importante do que casas ou arquitetos são aqueles que as habitam. De nada vale uma casa estonteantemente bela, se a habitam pessoas vazias. Assim se dá com os livros; mais importante do que eles ou seus escritores é o que nós, leitores, fazemos com eles. Menos vale o homem que lê Cury e continua esnobe do que o menino que se transporta à terras mágicas nas páginas de seus contos de fadas.

Palavras. Letras. Meros símbolos reunidos num sistema lógico. Os textos são frios e insossos por sua simples natureza. Sua magia se dá na imaginação de cada leitor.

Se você seria capaz de, apesar da idade, formação ou intelectualidade, se transportar ao país das maravilhas junto com Alice nas páginas do livro, parabéns, pois, independente de sua condição social, você é um milionário no campo da imaginação e, daí à felicidade basta erguer-se um degrau. Em caso contrário procure ajuda. Lamento, mas você está perdendo o maior e mais mágico prazer da vida.