" VÃS PENSAMENTOS "
Neste apartamento, eu, a música e a solidão, formamos
um trio inseparável. Amigo e solidário. Eu, poeta vagabundo
e amorfo, enxugo os pingos do sangue caído do coração apai-
xonado e só. A música, amada companheira, invade as frestas
desfila harmonias. Ecoa vozes. Faz-me rir e chorar. E a so-
lidão?. Essa, apunhala e ri das nossas sandices. Doce pan-
tera. Unhas à mostra. Veneno mortal. Sou um pobre poeta,
lírica música, cruel solidão. VAmos pela casa unidos a bai-
lar. Completos ou em pedaços como um quebra-cabeça indeci-frável. Coreografamos as lembranças como pétalas de rosas
soltas ao vento. Arrastamos nosso amor, indigno ou não, pe-
los objetos, saudade e pensamentos. Abraço a música. Choro
a solidão. Adormeço menino, acordo adulto. Penso; pensamen-
tos vãs. Deus, que fiz para sofrer tanto? Será que morri?
Penso. Leão. É isso aí leonino. Meu quatro antes tanto, ho-
je é nada. Sepulcro vivo de um amor. É escuro. Falta-me a
luz dos teus olhos. Minha pele é seca, opaca, caótica, nu-la. Falta-me luz, a tua. O ar é pobre de aromas corporais.
Falta-me o perfume. Teu perfume. Tateio bocas, braços, per-
nas, cabelos, seios, umbigo, sexo. Falta-me tudo. Mal acos-
tumado, voei. Ávido por teu beijo. Dormi ...
28.09.1984