SE CONVIDADO EU NÃO VOU...
Conforme disse em crônicas anteriores, fui repórter do jornal do  “ESTADÃO”,logo após a chamada “Revolução de 64”,ou, como se diz hoje, “o golpe de 64”-no DOPS-(DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL)- que sempre deu margem a assunto, até hoje,inclusive,recentemente, com a instalação da tal COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE, com sede em Brasília,sobre violações de direitos,torturas e arbitrariedades de toda ordem...Querem descarregar tudo nos ombros das Fôrças Armadas, as vezes,sem razão...Soa “vinditta”...fui Oficial do Exército em 67 e nunca vi tortura onde servi...Parece,um pouco, revanche,mas deixa para lá...
No entanto:
Lembro  que minha missão em 64,como repórter, era só informar o jornal e passar o noticiário do dia-a-dia que acontecia,naquele casarão  arquitetônico de jeitão “tenebroso”.Tijolinho à vista, de cor marrom-avermelhado...uma única entrada para o pessoal(o chamado público interno e externo)-muita vigilância-, garagem oficial- para os da casa e, a imprensa não tinha acesso aos porões onde ficavam os chamados “suspeitos”ou “detidos”, por várias razões oriundas de  ordem  interna pública, e ou, política-partidária,na gestão do delegado-chefe,Andréas Schmith,por sinal,gente educada e simpática...(A verdade deve ser dita,pelo jornalista.Nada contra esse delegado que era homem de confiança de Adhemar de Barros,na época governador-interventor).O acesso dado aos colegas (éramos em três -O ESTADÃO;FOLHA DE S.PAULO E JORNAL DO BRASIL,-Rio). A imprensa  só ficava no quarto andar,onde trabalhavam os delegados de polícia... De lá para cá, muita gente já partiu dessa para outra, tanto os policiais como também as vitimas da chamada repressão...mas uma delas ficou na minha memória de forma estigmatizada e não se apagou com o tempo...Foi o caso de MARIO SCHENBERG,que  vim a saber seu falecimento agora,mas foi na verdade em 1990!! Como o tempo passa, meu Deus... O físico-nuclear,comunista de carteirinha, que não fazia mal a ninguém- não matava nem uma mosca- e, era um gênio na ciência nuclear pelo mundo afora, eu conheci, quando depois de cinqüenta (50)-?- dias preso nos porões daquele prédio horroroso, que a gente ia trabalhar por” “dever de ofício...assisti,numa tarde cinzenta,típica de Sampa, cena triste e comovente. Após 50 (cinqüenta) dias amargando a “gororoba” de prisioneiro,(um homem de bem,inquestionavelmente) e pós interrogatório, foi convidado a retirar suas “coisas” apreendidas em sua casa e ou escritório,numa das salas dessa indigitada e indigesta repartição... Estava só com ele,ambos quietos, quando MARIO SCHENBERG,já de cabelos brancos, abatido,triste e comovido, disse-me ao olhar seus pertences...”roubaram quase tudo,especialmente os quadros que trouxe recente da China” (comunista,na época)...
O nosso talentoso pernambucano físico nuclear, MARIO SCHEMBERG,  de fama internacional,que aperfeiçoou o estudo da matéria quântica, de atualíssima modernidade,representou o Brasil no Exterior,pela capacidade e cultura, morreu desfalcado, sem o patrimônio artístico que ganhou na China, porque tudo o que tinha, até arte, era “subversiva”. Ademais, deveria ser “roubado” pela polícia ? “Confisco” não cola... é roubo mesmo.
Perguntar não ofende: existe arte “subversiva”??
MARIO SCHEMBERG pegou o que lhe restou e nunca mais o vi.
Tinha, no outro dia, que passar via fone, outras histórias ao “jornalão"...Assim foi!