A FÉ CEGA

Desde os mitos gregos, no mundo antigo, vivemos sob crenças de coisas inexplicáveis. Até que surge a filosofia, com Tales de Mileto. O uso da razão e ou da ciência, abre os olhos de algumas pessoas para um novo mundo, ou melhor, uma nova maneira de ver o velho mundo. Junto a tudo isso nasce um novo desafio: viver e conviver com as diferenças.

A nova visão do mundo, embora não extermine a velha maneira de viver pela fé, de acreditar sem cogitar – aliás, vale lembrar que ‘cogitare’, em latim, significa ‘refletir, considerar’ – cria mais um tipo de separação entre os homens. A história e nossas próprias experiências evidenciam a dificuldade de viver em uma comunidade, sem ter o ‘comum’. Quando se vive em uma comunidade, ou melhor, em um grupo, há a necessidade de sermos liderados, de seguirmos alguém. Mas, como seguir alguém que tem uma visão diferente de nós, e provavelmente nos levará a um lugar diferente? Dentre tantas as diferenças e, consequentemente, separações, acarretadas pela batalha da fé e ciência, uma em especial me chama a atenção: a inacabável guerra de ser melhor, único e verdadeiro absoluto.

As igrejas – qualquer instituição religiosa – julgam os diferentes, por exemplo, gays e viciados, como errados, culpados e condenados. As diferenças, quer na ciência ou fé, bloqueiam suas visões para o próprio núcleo, quebram seus espelhos, impedem que as pessoas vejam que há ambiguidades, dúvidas e falhas do “lado de cá”, no próprio grupo e no próprio ‘eu’. É uma cegueira que age como se os 'batizados' não tivessem erros, falhas e pecados. Quer seja pequeno e oculto ou grande e explícito, pecado é pecado, erro é erro. Se o homossexualismo te leva ao inferno, o ódio, a inveja, a gula, a mentira, a fofoca, dentre outras coisas, também te levará. Em suma: ou todos vão para o inferno OU todos serão perdoados.

Se, estamos falando de diferenças e erros, e estamos dispostos a viver uma fé que cega, uma crença que não nos possibilita ver o outro lado, ora, então que seja, literalmente, uma fé cega, que seja uma fé que não veja as diferenças. Ou, em caso de milagres e curas, que seja uma fé que as vê e as respeita.

Guilherme L Melo
Enviado por Guilherme L Melo em 10/06/2013
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