A ORIGEM D0 MAL

Visão de Santo Agostinho


 

Santo Agostinho foi filósofo, bispo e teólogo cristão, autor de obras fantásticas que perduram até hoje como pensamento fundante da filosofia e da teologia. Um dos principais alicerces do cristianismo, é marca registrada da Patrística. Aurélio Agostinho, o Santo Agostinho de Hipona, foi um importante bispo cristão e teólogo. Nasceu na região norte da África em 354 e morreu em 430. Era filho de mãe que seguia o cristianismo, Santa Mônica, porém seu pai era pagão. Sua maior especialidade : homilias !

Entre suas grandes obras de pensamento, encontramos a reflexão sobre a “origem e o problema do mal”. Essa maravilhosa meditação encontramos no capítulo VII do seu famoso livro Confissões.

Interessante notar as aflições e angustias de Agostinho ao discorrer sobre o assunto. Seus pensamentos borbulham em um processo de “vai e vem” o tempo todo, em um monólogo que ele faz diretamente com Deus, na mais absoluta certeza de que o Senhor o escuta, nada responde, mas escuta.

Agostinho começa o capítulo confessando suas dúvidas sobre a incorruptibilidade, inviolabilidade e imutabilidade de Deus, pois diante da inegável presença do mal, ele tinha dificuldades de entender o tema. Afinal, se Deus é Deus, de onde vem o mal ? Como Deus pode se submeter ao mal ? Se o mal está acima de Deus, então Deus não é Deus ! Agostinho precisava exorcizar os seus fantasmas.

Ele tinha grandes dificuldades em entender o livre arbítrio como a grande causa do mal. Na nossa língua – português - temos que ter muito cuidado ao ler, analisar e refletir sobre esse assunto, pois é preciso conhecer muito bem a diferença entre as palavras “mal, mau e maldade”. Quem não tiver isso bem claro diante dos olhos, certamente terá problemas de compreensão.

No pensamento agostiniano encontramos o “bem”, o “sumo bem”, o “mal”. Pessoalmente, por analogia, faria uma meditação comparativa, vejamos : não existe o frio, o que existe é a ausência de calor; da mesma forma, não existe escuridão ou trevas, existe ausência de luz. Pergunto : poderíamos dizer que não existe o mal, o que existe é a ausência do bem ?

Agostinho não usa a palavra, mas ela está presente no pensamento dele : concupiscência, que é a inclinação para o mal que todos nós temos/sofremos em razão da liberdade de vontade que Deus nos deu. Dizia ele : “ Quem me criou ? Não foi o meu Deus, que é bom, e é também a mesma bondade ? Donde me veio, então, o querer eu o mal e não o bem ? Quem colocou em mim e quem semeou em mim este viveiro de amarguras ?”

Percebemos que Agostinho, na verdade, procurava encontrar na raiz do “mal” alguma coisa de positiva. Ele estava com dificuldades de entender que o mal é a “ausência” do ser ou melhor a “ausência da perfeição do ser”, pois somos criaturas de Deus. Somos corruptíveis, temos a inclinação para o mal e podemos agir com maldade.

É Deus o autor do mal ?

O Bispo de Hipona analisa toda a natureza, criação de Deus, na sua sofrida busca pela verdade : a origem do mal. Ele busca explicação na terra, no ar, no mar, nas estrelas, nas árvores, nas águas, nos animais, nos insetos, nas plantas e até mesmo nas nossas entranhas. E voa alto : corpos celestes, anjos e arcanjos, espíritos celestes. E as dúvidas persistem, pois tudo que vem de Deus é bom e assombroso. Mas onde está o mal ? Onde se esconde ? Se Deus que é bom, criou todas as coisas, sendo Ele o supremo bem e criou os bens menores do que Ele, de onde vem o mal ?

A reflexão de Agostinho vai se dissipando passo a passo. Ele percebe, então, a perfeição das criaturas de Deus. Todas as coisas são boas e por serem boas são passíveis de corrupção, pois se fossem absolutamente boas seriam incorruptíveis. A corrupção é nociva porque diminui o “status” de um bem. Assim, todas as coisas que existem são boas, e o mal que ele procurava não era uma substância como imaginava, pois se assim fora seria um bem. Agostinho conclui que o mal é um acidente, um exercício da liberdade de vontade.

Ele entende, ao final de sua profunda reflexão, que todas as coisas e criaturas proveem de Deus e, assim, são boas e ele não tem o direito de gostar de umas e detestar outras, pois todas, sem exceção, veem de Deus. E quem é ele (nós) para criticar as obras de Deus ? Mas, qual é a origem do mal, então ? Não é uma substância, pois se fosse seria obra de Deus. Portanto, o mal é a “perversão da vontade desviada da substância suprema”. E por que Deus permite a presença do mal ? Porque Ele respeita a nossa liberdade de vontade, o livre arbítrio que Ele mesmo nos deu. O mal não vem de Deus, está em nós !

Leandro Cunha
junho 2.013.