A VULGARIZAÇÃO DO CARÁTER INTIMO.

O mundo da mídia e propaganda vive seu período dourado: nunca foi registrada tamanha capacidade dos meios de comunicação antes. A exposição é de tão grande magnitude, que muitas pessoas já vivem para ter sua imagem divulgada - assemelhando-se à história do palhaço Pierrot, personagem da mímica francesa, o qual após perder seu amor vive apenas para os aplausos da platéia. Esquecemos dos limites entre o íntimo e o público, mergulhando de vez na grande roda viva expositiva.

Existem aqueles cujo salário depende dessa exposição. Nesse meio artístico, há uma grande obsessão por estar sempre no pódio. Podemos não perceber, mas o próprio sistema capitalista encoraja isto: a transformação de pessoas em meros objetos comerciais. No fim, o que continua valendo é a capacidade das pessoas produto de atrair mais consumidores.

Entretanto, a batalha de não se tornar irrelevante, ou permanecer nela, não é restringida apenas para as celebridades. Os alpinistas sociais estão em toda parte: a internet é o meio mais usado para a auto-divulgação. Os dramas cotidianos, paródias cômicas, habilidades excepcionais, tudo é divulgado. A mesma obsessividade, seja pelo dinheiro ou a simples exposição, é observada nos desconhecidos.

Diversas músicas já foram escritas sobre o teor reverso da fama, segundo esses artistas, quanto mais as pessoas sabem sobre você, mais você busca o anonimato. Provavelmente, a razão pela qual um cidadão comum expõe seus dramas seja a busca por conforto e acolhimento dentro da grande massa espectadora. No entanto, é necessária a revisão de certos conceitos pessoais: a imagem pública deve ser preservada. A conscientização de que o meio público é hostil, é o melhor caminho de preservar uma sociedade com ordem, se a vulgarização do caráter íntimo.