Pouso de Emergência

O por do sol já vinha chegando. Nossos corpos molhados pela água salgada do mar e selados pelo amor. Aqueles braços envolviam a minha cintura enquanto eu acariciava aqueles fios negros capilares, acomodados pela salinidade. As águas escuras pela falta de luminosidade cobriam os nossos ombros. Os olhos dele observava cada detalhe momentâneo, cada mudança que o céu vinha a expor. Cada pigmento diferenciado. Cada centímetro que o sol se mexia, dando espaço para a lua brilhar. E instantes depois, veio a observar-me. Tão intensamente. Quase como todas as vezes que me observava em silencio. Aqueles olhos, por mais que eu quisesse, e os fenômenos pudessem fazer, eles ainda brilhavam mais que tudo que um dia eu pudera ver ou até imaginar. Aquela pele, mesmo submersa pela água fria, ainda acobertava-me quente, não sendo capaz de deixar meu corpo esfriar.

Rodeava às sete horas da noite no horário de verão, a praia quase tão deserta quanto meu peito fica longe daqueles braços. Então, talvez, ele com o pensamento longe, soltou uma rouquidão leve, insignificante e meio imperceptível, mas sem poder voltar a traz do que diria. Ele nunca foi do tipo de homem que se declara uma ou duas vezes no dia todos os dias por semana, na verdade, ele nunca foi do tipo de homem que se comunica bem. Ao contrário, ele sempre disse mais com os olhos do que com as palavras. Isso me cativa. Sempre cativou. Pois neste aspecto, as palavras sempre me confortavam melhor. Meus olhos mal sabem cumprimentar. Eles são tímidos perto daqueles. Quaisquer olhos se tornariam tímidos perto daqueles. Então continuou:

“Sempre quis observar o por do sol com alguém. Sempre quis observar o por do sol com você.” – Disse, um tanto quanto silencioso e envergonhado. Ele nunca viera a se apaixonar de verdade. Já tivera tentado varias vezes. Se arriscou, entregou-se, mas o tempo mostrou-lhe que todos aqueles momentos, eram passageiros, e não durariam mais que algumas semanas. Meu peito ficava só então. Pedi ao tempo que trouxesse alguém como ele pra mim, e a brisa empurrou-lhe contra todos os princípios que ele protegia, e me entregou embrulhado em retalhos de cetim com um laço avermelhado de seda contornando o pacote. Continuara dizendo, sem esconder seu sentimento, ou ao menos tentar omiti-los: “Quando eu era mais novo, ouvia as pessoas dizendo como era delicioso o amar. Contando diversas histórias que haveriam passado com seus respectivos parceiros. Histórias engraçadas, tristes, pavorosas, tenebrosas, suaves, e na verdade, em meio á isso, sentia que me faltava algo, mas não sabia bem o que era até então. Resolvi ‘procurar’ o meu ‘amor’. Mas, como procurar algo que nunca tinha visto, ou ao menos tocado, ou ao menos ouvido, ou sentido o cheiro, sentido, apenas sentido? Conheci diversas garotas, beijei varias delas, até pensava em levar tal relacionamento a diante, mas, não dava certo. - na verdade, nunca deu certo - Todas elas eram completamente diferentes, tanto entre si, quanto de mim. Haviam apenas uma coisa em comum entre elas. Elas não eram você. Elas. Não. Eram. Você. E, talvez fosse por isso que não dava certo – e lembrando, nunca dava. Ou quem sabe apenas eu julgava com rigidez demais. Imagina, sempre sonhei com UM certo sorriso, UM certo brilho, UMA certa realização. Sonhei com UMA determinação grande, rigidez com uma pitada de delicadeza. Sonhos vivos, foco, certeza. Fé. E se não fosse assim, não estava bom. Mas, de repente, me aparece você. Preenchendo as determinadas características. Superando minhas expectativas. Realizando os meus sonhos e ficando ao meu lado.”. Entrego-lhe a certeza de que quando ele começa a falar as coisas que sente, meus olhos retribuem com gotas d’água levemente salgadas. Mas não naquele momento. As palavras mais profundas e mais bem ditas não seriam capaz de me contradizer. Ele estava lindo demais para que eu prestasse atenção em uma só palavra que ele pudesse me dizer. A pele bronzeada e os braços musculosos revertiam à atenção que eu poderia lhe dar. As mãos firmemente me apertando contra seu corpo, como se nunca mais quisesse me deixar sair - e eu não queria. É tão bom sentir proteção. Sentir amor. Sentir desejo.

Por fim, meu sorriso desajeitado e amarelado pelos anos de cigarro retribuiu aquelas palavras mal ouvidas, e o meu “eu amo você” desconcertado, colocou um fim no assunto, como eu imaginara, sem que ele percebesse as minhas asas se fechando logo após um pouso de emergência, voltando de uma longa viagem por aquele corpo escultural.

Penélope Scar
Enviado por Penélope Scar em 17/02/2014
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