Um sonho bem sonhado

O tapete era vermelho e longo, e no fim dele, ele estava com um terno bem cortado com uma barba mal feita. Ele sempre sonhou com aquela barba e eu sempre sonhei com aquele momento. Um terno cinza claro, uma gravata prateada, um tom de pele amorenado pelo sol, um cabelo bem penteado para a direita, e sapatos a gosto, combinando com um vestido branco, longo, rodado, acompanhado de um buquê de rosas vermelhas e um cabelo preso. Nossas famílias formavam uma só naquele dia. Nós formávamos um só, naquele dia e para o resto dos nossos dias. O corredor era decorado com velas que flutuavam em aquários. A luz era baixa e o som do violino emocionava qualquer um que viesse a ouvir.

Meus passos eram devagar, mas a vontade de correr para aqueles braços era quase incontrolável. Mal enxergava o caminho, pois as lágrimas embaçavam minha vista. Aquele era mais um sonho realizado ao lado dele. Aquele era o maior sonho que eu podia realizar.

Eram apenas três degraus para subir, mas ele desceu para me buscar. Segurou-me pela mão, e antes de subirmos, beijou-a. Foi o suficiente para que eu começasse a chorar. O padre deu a benção, e de relance eu olhei com o canto dos olhos. Ele segurava a emoção para não fazer feio na frente de todos. Bobo. Eu sei.

Viramos para porta e as alianças chegavam cada vez mais perto. Douradas com nossos nomes escritos por dentro. Ele pegou-as, e me entregou a que eu deveria colocar em sua mão. A emoção era tão grande que eu lhe entreguei a mão direita, e começamos a rir no altar.

“Eu prometo ama-la e respeita-la na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossa vida.” Puxou-me. Abraçou-me. Beijou-me a testa, e disse baixinho no meu ouvido: “eu disse que te amava”.

Descemos os degraus, todos se direcionando para as portas dos fundos, e, ao chegarmos lá, uma chuva de arroz caiu sobre nossas cabeças. Entramos em um Opala conversível 76, preto, com latinhas amarradas na traseira e uma plaquinha escrita “Recém-casados”. Meu sorriso era evidente, e logo depois de ligar o motor e sairmos estrada a dentro, ele me olhou, sem conter a emoção, e falou “Até que enfim”.

Levou-me para um hotel, onde tinha feito uma reserva. O sol já se punha, e a piscina estava iluminada. Enquanto ele resolvia toda a parte burocrática da situação, eu agradecia aos céus por tudo estar tão bem. Entramos no quarto. O número era 1206, conhecidentemente a data em que começamos a namorar. O quarto era um tom de salmão, com uma arquitetura admirável. A cama era esculpida em madeira maciça, e os detalhes eram de perfeita precisão. A televisão era de LCD e estava presa na única parede pintada diferenciadamente. O guarda-roupas combinava perfeitamente com a cama. A sacada era grande, e dava de frente para a piscina. Nosso quarto se localizava a sul, então poderíamos observar o nascer e também o por do sol, o que era incrível.

Acomodamos nossas malas no guarda-roupas, e trocamos de roupa. Acomodei o vestido no protetor e prendi no cabide. O mesmo com o terno dele. Ele estava sem camisa, debruçado na sacada olhando o sol se por. Aproximei-me dele e coloquei minha mão na sua cintura. Ele me olhou, e rapidamente me abraçou.

“Consegui!” – ele disse.

“O que meu amor?” – perguntei.

“Realizar o meu maior sonho!” – respondeu, puxando-me de volta para o quarto. Começou a me beijar, e eu já sabia bem onde iria parar, mas não hesitei. Devagar, foi levantando minha blusa e eu terminei de tira-la. Desabotoei aquela bermuda jeans, e ele empurrou-a deixando-a cair no chão. O mesmo com meu short, e com todas as outras peças de roupa. Ele foi me empurrando de costas até a cama. O edredom caíra no chão, mas ninguém se importou, e continuamos até terminar.

Beijou-me o corpo todo, e minha pele já cansara de se arrepiar. Era a minha primeira vez, mas talvez eu não estivesse com tanto medo, pois era com ele. Adormeci em seus braços, e pela manhã ele acordou antes que eu. Cobrira meu corpo nu, com uma manta não tão fina. E sumira do quarto. Quando acordei, ele ajeitava o copo de suco na bandeja sobre o criado-mudo, também de madeira maciça. E dissera o que mais eu precisava ouvir pela manhã: “eu amo você”.

Penélope Scar
Enviado por Penélope Scar em 18/02/2014
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