Uma fraude de você mesmo

E, de repente, você acorda e antes mesmo de abrir os olhos você percebe que não foi sonho, que o que você mais queria que fosse apenas criação da sua mente enquanto você dormia era realidade, a mais pura e dolorosa realidade.

Nesse momento, você se dá conta de que tudo o que você mais temia que tivesse sobrevivido em você, continua vivo, continua latente, continua te fazendo escravo dos seus caprichos e desmandos e, então, você percebe que você foi, durante todo o tempo que achou que estava liberto de sentimentos que te empurravam para a beira do abismo da sua própria existência, uma fraude. É, isso mesmo, uma fraude de você mesmo.

De repente, você se dá conta de que tudo o que disse, de que tudo o que estipulou como novo em sua vida, de que todas as mudanças que você se fez acreditar que tivessem ocorrido, nada mais eram que ilusões que você se obrigou a viver como forma de não se decepcionar tanto com você mesmo.

Mas um dia, sem ao menos avisar, você acorda e descobre que estava vivendo em um mundo imaginário onde você se inseriu como uma pessoa forte, resolvida, decidida, dona das próprias vontades e sabendo, exatamente, qual o seu lugar no mundo. E, nesse dia, a triste realidade de quem você é na verdade te esmaga sem dó, te mostra sua face maléfica e impiedosa e ri, zombeteiramente, da sua cara.

Ainda de olhos fechados, você sente o tamanho da mentira que viveu até ali e a dor dessa descoberta escorre pelos seus olhos em forma de lágrimas. Soluços escapam da sua garganta, intermitentemente, e a inércia toma conta do seu corpo que se sente envolto em uma rede de desilusões e ressentimentos consigo próprio.

Esse, indubitavelmente, é o dia mais triste de toda a sua vida, mas, pode, também, ser o dia do seu renascimento se você, depois de derramar toda a sua dor e a sua autodecepção, resolver abrir os olhos e enfrentar, corajosamente, a verdade que se descortinou ao seu despertar. Você pode continuar a vítima de si mesmo, continuar cultivando a autocomiseração ou pode, simplesmente, reassumir sua vida do ponto em que parou em algum momento da sua história.

Essa escolha não cabe a ninguém mais além de você. Somente você tem a obrigação de banir da sua vida os sentimentos de medo, insegurança, apego ao que te destrói, inferioridade, falta de voz ativa, mágoas reprimidas, dores não doídas, angústias solidificadas. Apenas você pode mudar você mesmo. Tão somente você pode se transformar em um novo ser humano, mais verdadeiro, mais transparente aos seus próprios olhos, mais feliz.