O SORRISO DE MONALISA - Análise didática

Relato do filme:

O SORRISO DE MONALISA

“O Sorriso de Monalisa” é um filme americano que mostra a conturbação no cotidiano de uma escola feminina e tradicionalista de Nível Médio, em 1952 nos Estados Unidos, denominada Wellesly College.

Naquele ano a Professora de História das Artes Katharine Watson ingressou no quadro de professores da escola. Ela era uma mulher a frente de seu tempo. Detinha saberes pelas suas experiências pessoais e suas propostas norteavam para a aplicação do seu conhecimento da arte como concepção de vida. Vida que, para ela deveria ser pontuada pela libertação às regras sociais daquela época; pela liberdade de escolhas; pela conquista de espaço profissional para as mulheres, e pela igualdade de condições. Mas ela era "só" uma professora e estava satisfeita com sua vida!

Considerando que para as mulheres não havia carreira de trabalho no universo masculino, elas eram preparadas para o casamento e para a perfeita e exclusiva administração doméstica. A instituição de ensino tudo fazia para preservar sua didática, antiquada e machista, que valorizava a superficialidade, preparando as jovens a tornarem-se mulheres perfeitas para o desempenho de tarefas domésticas e dedicação à família. Família e Escola formavam moças para a submissão ao marido, sendo então que, tanto o conhecimento próprio como a cultura ensinada por meio das disciplinas clássicas eram aproveitados apenas para a composição de um cenário polido, de boas aparências e de exposição de um mundo artificial, com atitudes automatizadas. Porém, fatos contundentes marcariam a passagem para mais uma mudança social.

Logo no primeiro dia, Monalisa (apelido dado por um colega, encantando pelo seu sorriso enigmático) não conseguiu apresentar sua aula, pois as alunas já haviam decorado todo o conteúdo da apostila, previamente preparada, interrompendo-a com uma verdadeira exibição de supostos conhecimentos sobre a matéria, causando-lhe profundo constrangimento. Ficou nítida que a intenção das alunas era abreviar o tempo na classe para dedicar-se a assuntos adversos à sua matéria. Com essa atitude elas provocaram uma situação não didática, como se a professora fosse apenas uma figura representativa e descompromissada e, portanto, dispensável (talvez aquele comportamento até tivesse tido a aprovação prévia da coordenação).

A professora sentia-se a cada dia, mais e mais contrariada, porque tinha seus esforços em vão, tal o condicionamento arcaico à que as moças eram submetidas e compelidas à obediência cega e inconsciente. E a conscientização foi justamente o principal alvo que ela pretendia acertar nas jovens alunas, porque as influências e imposições dos demais adultos em suas vidas eram de cunho social, maçantes e hipócritas, cultura que marcara profundamente as gerações anteriores. Contudo, Monalisa era, então, uma das exceções; quase uma subversiva; uma ameaça às tradições.

Por uma questão de princípios e de honra, a professora decidiu traçar um novo método de ensino, praticando uma aula que desafiou o usual e despertou a consciência das jovens para o perigo de uma vida impregnada de futilidades e de equivocados valores de família. Desejava que compreendessem a possibilidade de desempenharem os desejados papéis de donas de casa em consonância com uma carreira profissional; sem o desperdício de tanto saber científico.

Seu jeito de ministrar; o seu saber ensinar era de vanguarda e, tendo causado constrangimento aos dirigentes e coordenadores, sofreu manifestas, porém discretas, reações de hostilidade contra sua presença progressista. Foi pressionada a adotar os métodos – há décadas – idealizados pela Escola.

Inconformada com a pressão sofrida não apenas continuou com seus métodos como também os aprimorou, apresentando à suas alunas, uma série de "slides" contendo gravuras de marketing da época. Por meio daquela apresentação pôde, num discurso profundamente enfático, conscientizar suas alunas sobre as armadilhas capitalistas contidas nas mensagens subliminares daquelas propagandas, que supervalorizavam eletrodomésticos e outros produtos que afirmavam os ideais de “rainhas do lar” às moças secundaristas, pois estavam em idade de sonhos românticos e definição de personalidade. Houve concordância de todas e assim, tempestivamente, a professora propôs um novo contrato didático.

Cada moça trazia uma história calcada nos seus conflitos, anseios, expectativas e perspectivas, sufocadas pela máscara polida de hipocrisia até mesmo de seus familiares. Mas para cada uma delas, que ainda fossem vulneráveis, não foi difícil perceber, cada qual no seu tempo de aprendizado, que era imperativo valorizar-se numa sociedade machista, preconceituosa e arrogante, em que a garantia de um casamento seguro e indestrutível tinha que ser o objeto de vida de toda mulher.

Monalisa sentiu que precisava, além de ensinar sobre a História da Arte, orientar aquelas jovens para uma perfeita situação adidática; e assim o fez, dentro do tempo didático. Não sem antes sofrer as conseqüências desagradáveis e outras agradáveis que tem um professor ao se envolver emocionalmente com as alunas, por conta dos seus princípios éticos. Foi demitida, mas continuou preocupando-se com suas ex-alunas.

Sua vida também tomou um novo rumo, posto que as orientações que dera em suas aulas também lhe serviram como um "insight"; como se suas palavras tivessem se voltado, primeiramente, para os seus próprios ouvidos. Desistiu do seu futuro casamento, desfazendo um noivado seguro e protetor para entregar-se aos seus ideais de realização profissional. Decidiu, além de tudo, entregar-se, emancipadamente, a um caso amoroso com um colega da mesma escola.

Presenciou mudanças radicais em algumas das suas alunas -agora quase amigas- acompanhando de perto suas decisões pessoais e os resultados. Aconselhou, sofreu muitas vezes, mas comprovou positivamente os resultados do saber ensinado.

Enfim, foi convidada a retornar àquela instituição porque teve seu trabalho valorizado, não pelas pessoas das antigas gerações, mas por causa do seu método realista, honesto e transparente. Tanto é, que a escola teve que abrir mão de suas convicções e reconhecer o talento da professora e que, como podia se esperar, o retorno de Monalisa representava sobretudo, uma promissora resposta financeira devido aos inúmeros pedidos de matrículas especificamente para suas aulas, fato que afirmou uma inovadora situação didática.

- ~ -

CONCLUSÃO

A Transposição Didática ocorreu a partir do momento em que Monalisa percebeu a necessidade de transpor os seus conhecimentos, adaptando-os às reais necessidades das alunas. Isso se deu após a sua aula inaugural, quando as moças exibiram seus conhecimentos “decorados”, causando constrangimento na professora. Aquele fato exigiu que a professora procedesse então, com a desincretização, isto é, dividiu sua matéria em duas áreas: propriedades específicas do curso e contexto pessoal. Por este último, considero que não houve a regra denominada despersonalização. A programabilidade, portando não ocorreu devida a adaptação que incorreu numa interrupção dos programas de aulas. Por exigência da direção da escola, Monalisa teve que dar explicações sobre seus métodos e essa regra denomina-se publicidade.

O Contrato Didático ficou marcado, especial e implicitamente, quando da exposição dos "slides" sobre as propagandas e durante a qual impôs sua autoridade, não aceitando interrupções e comentários das alunas. Ou elas assimilavam as mensagens diretas da sua dissertação, ou seriam convidadas a se retirar de sua aula, fato que, em verdade, nenhuma delas desejava, pois a aula tornou-se densamente interessante.

A Situação didática se fez presente em quase todo o filme, em função da urgente necessidade de integrar o aprendizado sobre a História das Artes plásticas como expressão humana e sobre a arte de viver em prol da integridade e da realização pessoal, associando-as.

Maio/2011.

Marisa Silveira Bicudo
Enviado por Marisa Silveira Bicudo em 07/11/2014
Código do texto: T5026779
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.