Amizade, jogo de interesses
A amizade costumava ser uma base estrutural e definitiva na vida das pessoas, hoje é montada de acordo com classe social e base definida no interesse, passou então a ser superficial e conveniente, mas por que tivemos esta metamorfose da amizade e desde quando podemos efetivamente observá-la?
"A amizade é uma forma de amor (Alberoni, 1993), não um amor qualquer, mas um processo adulto e sofisticado".
Dar-se pelo outro, estar presente em sua vida, é cada vez mais difícil encontrar pessoas que se enquadre na definição de Alberoni, a amizade hoje é mera feição. Sócrates, na sua época, já pregava à seus discípulos uma ideia bem mais concreta à cerca da amizade: "Os maus não podem amar uns aos outros, este tipo de vínculo só pode existir entre homens de bem e dedicados à sabedoria".
Teríamos então ficado "não-dignos" de tal privilégio?
O individualismo decorrente da sociedade capitalista nos move cada vez mais para relações interpessoais falhas e automáticas.
"A sensação de violência nas cidades do nosso planeta tem contribuído para aumentar o sentimento de solidão e a descrença na amizade" (H. Arendt)
O princípio básico da sociedade capitalista é sem dúvidas o bordão popular: "Deus ajuda quem trabalha", mas quem o criou certamente esqueceu-se de mencionar como o ser humano fica desequilibrado diante do acúmulo de riquezas materiais, "o homem é ambicioso e desonesto"! Negar este raciocínio é negar a nossa realidade. A amizade hoje é simplesmente um "jogo de faces" em que quem tem o dom de derrubar próximo se sobressai e é aclamado nesta chaga onde vivemos.