ATRAVESSADORES CULTURAIS

Olha só como as coisas são: Hoje comprando meu filãozinho integral encontrei um amado amigo, e admirável, abraços, beijinhos e vontade de prosear: Essas minhas andanças matutinas são ótimas, entendo quando me dizem que quando saio, paro em todo canto e sempre belisco idéias com quem encontro... “barco encalhado”, paro em todo porto, me abasteço e saio navegando (RS).

Mas que ser de sorte eu sou...

Entre a emoção de encontrar uma pessoa querida e a alegria de compartilhar meus pensamentos, cheguei à uma conclusão: Muitas vezes ocorre das pessoas não compreenderem o que e como falamos e o planeta Roberta Lessa é abençoado com milhões de inspirações por segundo e muitas delas talvez sejam obscurecidas pela incompreensão de seu real conteúdo... O outro, e por estar em si, per si e para si muitas vezes mesmo que despretensiosamente adultera falas e pensamentos, pois os tem próprio também na sua mente (ahhh! nossa mente é uma loucura: “toda tradução é uma traição”, já dizia meu amado Z.L.). Dessa forma compartilho com todas (os) fragmentos das falas de hoje, que tem a ver com um antigo texto por mim elaborado e que falava sobre atravessadores culturais, mas esse amigo, diga-se de passagem um mestre cuca de mão e coração cheios chegou meio “chegandinho” e perguntou:

O que é para mim um “atravessador Cultural”?

Vamos por partes, digo letra à letra, afinal sem nos limitarmos à um determinado tempo ou geografia, pois a cultura é contemporânea em toda sua esfera de alcance, e é arte algo à parte da sorte de quem a faz: Quando um indivíduo ou grupo de pessoas, organização governamental ou não, transgride e desavergonhadamente ousa copiar, contrabandear, comercializar e lucrar com determinada obra de arte; um Dali, um Jobim, um Tom Zé, um Pessoa, Maiakovski, Sartre, Miró, D’Avince, a exemplo; Há um enquadramento legal de nível internacional, pois se caracteriza plágio, que segundo a Wikipédia, "(...) é o ato de assinar ou apresentar uma obra intelectual de qualquer natureza (texto, música, obra pictórica, fotografia, obra audiovisual, etc.) contendo partes de uma obra que pertença à outra pessoa sem colocar os créditos para o autor original. No ato de plágio, o plagiador apropria-se indevidamente da obra intelectual de outra pessoa, assumindo a autoria da mesma."

Bom retomemos nossa contemporaneidade:

Sem que percebamos ou percebendo, surge em cena os ATRAVESSADORES culturais, simpáticos, afáveis, amigáveis mas nas mãos, lábios e olhares a lâmina afiada que atinge a alma de um povo que faz da arte parte de sua vida, e isso vem ocorrendo com nossas manifestações populares que sofre constantemente apropriação indevida e permissiva por parte daqueles que deveriam salvaguardar o patrimônio cultural de uma população, povo simples de traquejos caipira, essa população muitas vezes é em parte ou totalmente desprovida de saberes estético, técnico, acadêmico, para sua auto defesa, não fazem parte do padrão estético vigente, mas são procurados e amados por esse diferencial... São eles os verdadeiros FAZEDORES DA CULTURA POPULAR, resistem e muitas vezes com suas poucas armas, lutam contra aqueles que lucram e não repassam o que lhe é de direito integralmente. São violeiros, dançantes, cantadores, catadores de idéias sublimes, artesãos, contadores, benzedores, enfim todos aqueles que são tradição comprovada em vida e em morte.

Ahhhh ! A morte, essa delével vilã que levou tantos, eles que ficaram na miséria e sem alento algum que valorizasse seus feitos, mas muitos ainda sobrevivem e são como nós especialmente gente e "(...) gente é pra ser feliz e não passar fome (...)", meu Caetano tinha que chegar aqui nesse ponto do proseio...

Qual a diferença dos ATRAVESSADORES e dos verdadeiros FAZEDORES da cultura popular?

Os primeiros se travestem de agradáveis, mas falaciosas e tendenciosas palavras, visando o interesse próprio, individual ou do coletivo que faz parte, através de confecção, e comercialização indevida e imoral, em detrimento daqueles que realmente são o folclore, a tradição há de existir através do respeito dos saberes ancestrais, dando continuidade sim aos que a herda...

Os atravessadores desenvolvem projetos, ganham dinheiro, subvertem a essência da arte porque é vital para seu lucro pessoal manter na ignorância a fonte de seu lucro fácil... Guardam para si aquilo que deveria ser compartilhado com todos, não são contínuos, pois quando descobertos mudam de paisagem feito nômades, mas são destrutíveis, pois só fazem cópias, adulterações e sempre se justificam afirmando "(...) que é preciso para salvaguardar , ganhar isso por isso, afinal estamos num sistema capitalista(...)"

E a sociedade?

Nem dá conta do que ocorre, pois há mecanismos muitas vezes legais que camuflam as verdadeiras faces desses seres travestidos de boa vontade. Mas que legião heim?

Já os FAZEDORES são raros e pontuais, pois atravessam o tempo carregando sua sina, sua marca que fora tatuada dentro d’alma numa época quase xamânica... E por isso trazem o respeito a todo processo que é inserido e jamais transgridem a natureza, a roda da vida, da própria vida, que permanece íntegra no âmago de seu belo e deveras sofrido ser... Enfim, herdou sua arte, sua cultura, suas formas de expressão e pela força da fé e por tudo que representam resistem ao tempo que lhe consome o corpo, mas não a alma.

Meu amigo amado Abel Bueno ( "O Encantador da Viola", violeiro de Piracicaba-SP) ensinou-me:

"Um caipira não se FAIZ, ele "É", ele come, ele dorme, ele é as coisa que faiz”...

Nesse contexto emerge dessa situação um novo e necessário personagem: O GUARDIÃO, que adquiriu conhecimento de causa e ciência da emergencial linha de ação visando o fomento do respeito, salvaguarda e proteção das manifestações folclórico culturais de um povo, de seu povo, pois ele também o É... Não são corruptíveis, pois tem a mesma fé que remove as montanhas de ganância construídas para cegar a população que sem visão ampliada dessa riqueza, somente consome sem degustar o sabor de uma arte popular e esse consumir, muitas vezes pode vir a tornar-se um câncer em sua entranha, pois sua natureza certamente gritará para que tomes a consciência e as rédeas da vida.

Os guardiões por suas posturas e lealdade são isolados, discretos, jamais se mostram e quando o fazem é para "peitar" os atravessadores e salvaguardar as manifestações, mesmo que elas não estejam vinculadas à suas escolhas ideológicas.Respeita a diversidade, pois sabe o valor de cada ser que existe no universo, mas para falar dos guardiões é um texto à parte, pois esse sim merece outras falas e outros contextos.

Compartilhei idéias... para alguns mal ditas, para outros bem ditas.

Um beijo a todas (os) e que venham os atravessadores, pois para cada legião deles é necessário apenas uma unidade (Guardiões + Fazedores) para combater tal invasão... e tenhamos certeza que a verdadeira face pode tardar mas se desvela nas ações...

É pouco?

Mas é tudo que temos...

Roberta Lessa
Enviado por Roberta Lessa em 06/12/2014
Código do texto: T5060320
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