MISSIVA À AMIZADE ALHEIA- ROBERTA LESSA

... e você me dizia que eu deveria me aquietar e deixar as coisas correrem como devem ser, sem que eu intercedesse...

... mas não serei eu a seguir seus passos, pois temos caminhos diferentes e por isso, desprovidos de similaridades...

Não me peça isso, desabasteça-me do senso de inércia que deseja implantar-me, e sem tentativas de pieguices de minha parte, pois o momento não é devido, percebo que somos todos diuturnamente anestesiados ou inculcados de esquecimentos - permitimos isso, pois é mais fácil "deixar a vida me levar", como fala essa música que deprecio - o que torna nossa memória e ações munidas da falta de sensibilidade tão necessária para qualquer reação contrária à muitos fatos que deveriam nos horrorizar.

...e algo me toma, invade, sacode e estremesse a estrutura que ia quase a cristalizar-se em meu senho há muito construído através dos resistires, feito desejo que chega e cega...

...eis que cá estou a desvelar-me sem temer a impunidade que exacerbava os que se incomodam como meu riscar palavras...

O tempo, esse grande e renomado aliado do perdão, também é a maldição da humanidade pois impinge-nos o esquecimento pelo distanciamento da mente do fato ocorrido. Percebo também que o desejo de esquecer ocorrências é uma das formas de não lidar com elas solucionando-as ou uma forma de não agir para modificá-las, sendo elas grandes ou pequenas, ou até corriqueiros fatos sociais de nosso dia à dia. Muitas vezes é necessário cutucões para que não depositemos nossa história num canto escondido e escurecido de nossa mente e que seja um ferramental para fugirmos do mecanismo impingido propositalmente, em tudo que pensamos ser, com a finalidade de se domar a mente libertina e liberta de idéias e ideais. Aquele que recorda é um incômodo, um estorvo social a ser eliminado, a arte literária, cinematográfica, musical, plasticas, a filosofia, seguem também contra a maré do domínio, quando realizada com esse propósito pois o inverso é o que mais ocorre. O maior assassinato da humanidade é sacar do humano seu livre pensar e sentir, é sorver-lhe o direito de revolver o que sabe para eternamente se auto construir... e como válvula de escape, uma vazão social é gerada de tempo em tempo e nos dá o sentimento de pseudo saciedade da ânsia de fazemos algo, quando na verdade muito dos movimentos é a eterna ditadura travestida de cordialidade e luta de direitos fragmentários e que não unificam a humanidade como um corpo inserido no universo, mas na verdade é mais uma arma de manutenção da continuidade dessa desconstrução mental que falei acima. Estarmos num movimento social é realmente sermos agentes sociais de nós mesmos e do outro e não um modismo a levantar bandeiras. Trabalho em função do fomento de linhas de pensamentos alados, para que seja uma borrifada de lucidez em tudo isso que ateia fogo à liberdade de expressão e ação.

... deixo-me levar, não pela vida, mas pelas velas sopradas pelos ventos marinhos e renova os rumos a serem navegado...

...as marés ressurgem sempre, e respeita os ciclo da vida...

Roberta Lessa
Enviado por Roberta Lessa em 07/12/2014
Código do texto: T5061302
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.