Volta a faculdade

A entrada para o prédio da faculdade era uma larga escada de mármore.Registrava o branco acinzentado o tropéu diário de centenas de estudantes. Eu era um deles naquele dia de sol no Distrito Federal.

Meu rosto exibia um sorriso inapagável de 41 anos que tentava esconder o medo e a excitação de estar de volta.

Os corredores que levavam as salas eram revestidos de tijolinhos vermelhos, insensíveis ao meu desespero.Em nenhum momento denunciavam que direção deveria seguir para alcançar a turma 261.

Em azul estavam as placas de sinalização e eu não as via, pois , como todo dona de casa acostumada aos programas de TV com inúmeros show room e decorações , esperava encontrar as placas em tons em degradè. Aquele azul... Não combinava!

Senti o meu sangue fugir para as paredes quando o primeiro sorriso desconhecido cruzou meu perdido caminho. Dizem que timidez robustece a face, a minha branqueia como a morte , as mãos gelam e suam. Diga-se o que da voz? Some. Fica o riso na boca seca.

Achei a turma. Entrei atrasada. Aula de Antropologia. A professora pequena e vivaz cantarolava sua vivência num país distante.Fazia um jogo interessante de ir e vir sem sair do lugar.

Deixei a mente vagar pelas ilhas de Cabo Verde.Vi as mulheres negras e belas deixarem nos portos os maridos e filhos e partirem para a distante itália. Imaginei o rosto triste , mas a alma cheia de esperança. O semblante confiante , o semblante alegre ainda que a lágrima teimasse em passear pelo rosto.

Ouvia o alarido do cais, sentia o cheiro das frutas e temperos. Via as crianças e irmãs coloridas acenando animadas até que o navio se distanciasse. As mãozinhas procuravam umas as outras e de retorno a uma nova casa guardavam as tristezas na esperança do retorno materno em breve.

Assim foram os meus primeiros 50 minutos na sala de aula.

Pensei em como eu nada havia mudado, mesmo já sento uma mulher madura. Continuava sonhando acordada como a adolescente que pela primeira vez havia entrado na faculdade há muito tempo atrás.Então eu sorri, pra mim, e me senti tão viva que nem sei ...

Acho que podem pensar que sou meio louca ali naquela classe, mas dizem que a felicidade enlouquece mesmo.

Estava pensando ... quero ir no espaço! Ei não ria, vc que está lendo este texto! Nem imagina quantas vezes fui a lua , mesmo plantada na janela.

Tive outras aulas aquele dia , mas a de Antropologia ...