Criminosos ou criminalizados? Eis a questão.

Ouvem-se tiros ao longe. Vêem-se ônibus pegando fogo; gente correndo assustada; aviõezinhos entregando papelotes e policiais fechando os olhos em troca de alguns trocados. Do outro lado da cidade, maletas são deslocadas de empreiteiras a políticos – estes com dinheiro em cuecas e contas na Suíça. Sonegam-se impostos. Compram-se mercadorias piratas. Falsificam-se carteiras de estudante. E tantas outras coisas. Mas que lugar é esse? Este é o Brasil. Agora só resta saber: somos um país de criminosos ou de criminalizados?

Dizer que o Brasil é um país, apenas, de criminosos, é ignorar a realidade. Fechar os olhos – e os vidros do carro, os portões das casas - para o que está ao nosso redor. Pois é na pobreza que surge o batedor de carteira e este é conseqüência do sistema que não lhe garante nenhum direito básico, e, ainda, o oprime com forças militares de coação – a polícia. Além disso, são nos bolsões de miséria que irão surgir os traficantes de drogas, muitos frutos da necessidade de sobrevivência ou vítimas de um padrão midiático que nunca irão alcançar, senão por meio do comércio de cocaína e outros.

Achar, entretanto, que somente há criminalizados, também, é uma avaliação equivocada da realidade. Pois o que leva muitos ricos a roubarem dinheiro público, seja por meio de mensalões, Zuléidodutos ou sonegando-se impostos – como a Daslu fez – se não o mau-caratismo genético e o instinto, desde menino, de ser ladrão?

É claro que entre o rico criminoso e o pobre criminalizado existe, também, a classe média. E, justamente por ser média, não se decide em que lado ficar. Uns se assumem criminosos comprando DVDs piratas, falsificando carteiras de estudante, identidades, documentos, etc. Outros se dizem criminalizados, alegando que entraram no mundo do crime por necessidade. Isso porque, principalmente, a classe média baixa viu cair a sua qualidade de vida vertinosamente com o aumento dos impostos e do preço daquilo que consome.

O Brasil, portanto, é um país de difícil definição. Existem criminosos e criminalizados. E a única coisa que parece em extinção, por aqui, é a honestidade. Além, é claro, de investimentos sociais que possibilitem o fim dos criminalizados e punições severas aos criminosos. Assim, somente depois dessas ações poderemos nos orgulhar deste país.

Bruno Pondé
Enviado por Bruno Pondé em 08/06/2007
Reeditado em 09/06/2007
Código do texto: T518793