SOBRE O LIVRO "DUALIDADES"

Meu querido escritor,

É com imenso sentimento de gratidão que, mais uma vez, estou aqui a escrever acerca de mais um livro seu: Dualidades.

Eu só posso ter feito causas tão boas nessa vida para merecer receber a sua atenção e, mais ainda, ter seu aval para expor minhas considerações de algo tão importante, valoroso e gerado com todo carinho: o livro.

O prefácio do livro não poderia ter sido escrito de outra forma. É na simplicidade que me encontro mais rapidamente. O livro todo é uma explosão de sensibilidade. O que mais me encanta no autor são as curvas de sua linha. Um eu-lírico fabuloso e compreensível. Adoro e admiro um eu-lírico que não segue uma linha reta. Uma linha reta cativa só até a metade, depois perde o encanto. Mas o seu eu-lírico tem linhas curvas, tal qual a linha das batidas do coração: sobe, desce, alonga, afina, abaixa, crescem pontiagudas e delicadas.

Quando ela segue uma linha reta, já não existe mais vida, nem emoção, o brilho se esvaiu...

Considerei perfeito o autor dizer que “os poemas proporcionam aos nossos cinco sentidos emoções inimagináveis”, e que, para isso, é preciso ler os poemas em voz alta. Pura verdade! É lindo! É magnífico! É mágico!

Não é fácil escrever poemas e poesias, mas ao mesmo tempo é. Não é fácil porque requer de muita sensibilidade do escritor, e poucos possuem essa essência. E é fácil porque não há segredo. É só emprestar as mãos ao coração e deixar que ele fale, dite as palavras, tome conta da situação. Quando isso acontece, o leitor mais aguçado sente, vive cada expressão do escritor.

Meu passeio literário por Dualidades

Interessante “A Pedra” vir em primeiro lugar, abrindo alas. Por que será? A resposta vem lá no final: “porque no meio da pedra havia um caminho”. Um caminho que guia o leitor a uma “infinidade de dualidades emocionantes”. Eu entrei nele e me perdi de propósito, me permiti me perder num cosmo de sentimentos explícitos e implícitos, revelados e ocultos, nas linhas e nas entrelinhas, nos olhos e por trás dos olhos.

Um grande amigo meu me falou uma vez que eu consigo imaginar o sentimento do escritor no momento da composição porque desfruto da obra dele. Ele tem toda razão, mas isso só é possível porque o escritor permite que seu coração fale por si só. Corações em sintonias se comunicam rapidamente.

O livro Dualidades é um primor. É como um jardim cheinho de flores coloridas, plantinhas semeadas com todo carinho, cada uma no seu lugar, cada uma com sua função, cada uma com sua mensagem, mas bem pertinho uma das outras. Sementinhas do escritor.

O livro me ensinou que pedras são de todos os tipos, e que uma pedra não é apenas uma pedra. Entendi que a vida é uma constante dualidade e que o antagonismo pode até soar negativo, mas nos conduz à ponderação. Senti a poesia vibrando no escritor/artista traduzida por meio de sua sensibilidade. Percebi que sempre tenho disposição e disponibilidade para desfrutar de uma bela obra, e que a persistência e a insistência podem definir como me comporto.

Mais uma vez eu compreendi a distinção entre causalidade e casualidade, apesar das duas palavras serem bem parecidas, mas cada uma segue seu curso. Deliciei-me, apaixonei-me na paródia do fogo que arde. O amor é uma ferida que dói e se sente. Ah! Como sentimos mesmo! O amor, de fato, nos prende contra a vontade, mas a gente aceita essa prisão porque é necessário reconhecer o direito do amor.

Fiquei pensativa, questionei-me: “Por que Galway? Seria aquela cidade da Irlanda, ou inspiração de alguma música?” – Então li, reli, li de novo, reli... Tudo muito profundo: poesia, melodia, carícia, beijos, olhares, toques... Minha nossa! Tudo isso voltado para as flores, ou as flores foram colhidas metaforicamente? Não importa, importa que houve sentimento.

Uau! Adorei afogar-me em afagos deliciosos, excitantes, cativantes coroados com beijos. Fechar os olhos faz todo sentido e mexe com os sentidos.

Não deu pra conter os olhos molharem em tímidas lágrimas ao relembrar os tormentos de uma saudade doída, que machuca, que dilacera. Só quem sentiu sabe que “a ferida não fecha, porque o coração está aberto, e que a dor não cessa, porque o coração não estanca o amor”. Sábias palavras do escritor.

Como num passe de mágica sou encaminhada a curtir um sentimento de gratidão aos amigos que estiveram presente num momento tão difícil na vida do autor. Felizmente meu querido escritor tem amigos de verdade; felizmente tudo deu certo. Minha deusa interior me olhou com cara de interrogação, mas eu fiz um sinal para ela deixar de ser curiosa. Felizmente, ela acomodou-se. Só não sei até quando.

Nas proezas de minhas observações escritor/sentimento, autor/obra, deparo-me com uma linha, não reta, mas curva. As linhas curvas nos dão mais oportunidade de conhecimento e faz nascer a curiosidade sobre o que há na próxima curva. Curvas podem ser perigosas, mas é isso que desperta em nós a precaução, o cuidado.

Servi-me e embriaguei-me com vinhos sentimentais, a bebida dos deuses, exposta de forma tão singela e com uma admirável e invejável especialidade de um poeta-sommelier. Para marcar passos mais profundos poeticamente, emprestei do escritor as suas sandálias, fiéis companheiras, dignas de poesia.

Viajei tranquilamente e deixei minha imaginação vagar por entre campos, planícies e descampados num prazeroso excursionismo poético no caminho pra Minas Gerais.

Descobri que meu adorável poeta também é um louco por considerar que muito é pouco e que pouco é muito. Mas em meio a todos esses graus de considerações, só podia ter amor envolvido, sentimentos vividos, emoções compartilhadas. Aplaudi de coração aberto e pulsando acelerado ao deparar-me com a tendência que encontrei. Não a minha tendência, mas também não deixa de ser um pouco minha. Uau! Escrito sob medida! Muito revelador e muito curioso algumas informações. Estaria o escritor falando de si mesmo em todas as tendências? Muito ousado.

O autor, assim como toda sua obra, é uma mistura de doce apimentado, diferentes emoções, todas juntas e misturadas, ou simplesmente amalgamadas. Amar + gamar é o que me faz desfrutar da obra. Simples assim. Todas as poesias têm o seu encanto, a sua singularidade ou sua dualidade. Extasiei-me com fácil e difícil, um paradoxo excitante, envolvente, inebriante. Fiquei na curiosidade de querer saber quem tanto povoou a mente do escritor para fazer as suas palavras ganharem vida de uma forma tão atrevida.

Como não sentir vontade de cuidar de alguém que sofre quando se sente sozinho? Como não querer estar perto e tentar acalentar somente com nossa presença? Pois é, somente quem já passou por momentos de solidão é que pode entender a intermitência de estar sozinho e acompanhado. Mas, para isso, como disse outrora, é preciso sentir, e sentir é muito mais do que tato, é além do tato. Sentir é introspecção, é voltar os olhos para dentro de nós. É impressionante como nossos olhos se fecham quando precisamos olhar para dentro e, se eu fiz isso, é porque precisei sentir.

Para um grande artista/poeta, a introspecção é sua grande companheira o que faz esbanjar sentimentos em algo que, para muitos, é apenas algo sem muita utilidade literária, como, por exemplo, contas. Sim, contas. O artista não faz de conta, ele conta que contas vão além da conta de nossa imaginação.

Mais adiante me deparo com o que completa a vida: o amor. É confortante ouvir com os ouvidos do coração palavras como essas: “pois o amor, no fim das contas, é tudo o que queremos, tudo aquilo que precisamos, e com o qual nos satisfazemos completamente”. De acordo, pois, a vida é dura e o amor faz ela durar e valer a pena, mesmo que façamos muita coisa que não queremos fazer, mas que é necessário. Em outras palavras, “a dura dura”. A gente tolera muito, não porque gosta, nem porque somos falsos, mas porque somos capazes de ignorar.

Nesse tranquilo e apaixonante passeio poético, encontrei a resposta do porquê de ficarmos ligados ou apegados calmamente a uma pessoa. A resposta é porque estamos unidos por um laço invisível, mas, quando sofremos ou fazemos o outro sofrer, é porque o laço virou nó. Encantei-me com a frase: “Somos incontrolavelmente atraídos, por um magnífico magnetismo, fisicamente, pelo encaixe perfeito, e extraordinariamente pelo coração”. Uma simples fotografia dos enamorados.

Consegui encontrar mais uma resposta. Dessa vez do porquê de gostar tanto de ficar na companhia de um grande amigo meu: é porque ele também gosta de ficar sozinho. Parece meio sem nexo pensar assim, mas há muita obviedade por trás dessa afirmativa: “Quem gosta de ficar sozinho consegue compreender bem quem gosta de ficar sozinho”. Gostar de ficar sozinho não quer dizer que não gosta da companhia de outras pessoas, mas é pelo simples fato de gostar de ficar sozinho, quieto, pacato. Mas vale lembrar que nem sempre quem está sozinho está sossegado. Há quem diga que nunca estamos sozinhos quando estamos na companhia de nós mesmo, mas é fato que, ninguém mais, além de nós pode sentir o que sentimos. Mas é bom ficar sozinho. Ficar sozinho é um treino na/para a vida na certeza de que um dia vamos partir ou veremos alguém partir.

É claro que, em meio a tanta solidão, tinha que aparecer um vazio. Deu pra encher de vazio do vazio exposto pelo escritor. Cheio de vazio melancólico, cheio de vazio sentimental, cheio de vazio. Muito apaixonado. Quem será que deixou o poeta assim, tão cheio de vazio, sofrendo de vazio? Talvez esse misterioso ser nunca soube o que provocara com tanta maestria no âmago do artista. O positivo é que houve aprendizado, mesmo fazendo tudo de novo. Vejo mais adiante a teimosia de reviver cada sentimento como um louco masoquista que sente prazer em ser machucado.

Tudo por amor? Perguntei-me. O amor, esse sentimento sublime que nos transforma sem ser completamente definido. Relaxa demais ler sobre o amor. Os poetas transformam o amor em Poesias, em lindas Poesias. Já dizia Platão: “não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o amor toma conta dele”. Concordo. O amor é sublime. E o que dizer da gente? Ora, “a gente só deve se dar, a quem souber valorizar. A gente só deve amar quem reconhecer, apreciar, souber retribuir, fazer valer”. Mas nem sempre a gente faz isso, porque o amor não espera nada em troca.

Como Poesia tem som, a trilha sonora de verdades ocultas é bem forte. Som de suspense. Som de revelação. Parece que as palavras vão sair pulando e amedrontando, com olhos esbugalhados, dizendo: “Culpado! Você errou!”

Mas, a trilha sonora forte, vai esmaecendo, dando lugar à uma melodia melancólica de um amor intenso, mas não desejado sentir. Um passeio deprimido no mais íngreme íntimo do jovem escritor na década de 90. Como o amor é um sentimento universal, mesmo retratado em outro idioma ele é perceptível. A inquietação em no querer quererte, é sufocante. Como lutar contra um sentimento assim? No final, é melhor mesmo render-se, dessa forma, acalma. A determinação solitária está presente em lo que quiero. Um solitário convicto. Convicto de si mesmo em busca de um sonho, de um objetivo. Às vezes é necessário separar para unir, por quê? Porque um dia teremos tudo o que quisermos, basta não se acomodar. Mas eu prefiro ter o que preciso, e não o que eu quero.

Sentindo e sabendo que estou prestes a finalizar meu passeio literário repleto de dualidades emocionais, acorda em mim um sentimento de arrepio. Creio que acabo de inventar esse sentimento: de arrepio, não de arrepiar. Surpreendo-me e encorajo-me com os incentivos de um companheiro inspirador, munido de muita força, esbanjando coragem e confiança. Então eu o convido para acompanhar-me nessa caminhada, mesmo sabendo que estou perto de finalizá-la.

Ele, em sua aparente delicadeza, estende a mão e diz: - Vamos!

Eu não hesito e estendo a minha. Assim que nossas mãos se tocam e começamos a caminhar, ele para e sorri pra mim. Em seguida ele profere: “Agora já tens um novo brilho no olhar... Compreendestes? Sentes a profundeza da felicidade absoluta – Algo existente somente no âmago da tua vida”.

Eu começo a sentir saudade da caminhada que fiz, dos sentimentos que afloraram, de tudo que conheci ou reconheci. Eu fecho os olhos. Cheguei. Ou melhor, chagamos: meu companheiro e eu. Ele, sorrindo pra mim, sorrindo pra tudo, sorrindo com os lábios e sorrindo com os olhos, me pergunta:

- O que você achou desse passeio?

Eu, em minha morada íntima, revivo cada passo, cada informação obtida, lhe respondo:

- Companheiro, eu só tenho a agradecer pela oportunidade que acabo de desfrutar. Eu só tenho a agradecer por poder caminhar nesse paraíso particular de um eu-lírico híbrido, afável, real e poético! Gostaria do fundo do meu coração, que todas as pessoas também tivessem a oportunidade que acabei de ter, ou, que ao menos, se permitissem a fazer um passeio fabuloso nas profundezas literárias e, juntos, compartilharmos dessa emoção!

“O fim também pode ser o começo”. Dedico aos meus amigos essa frase. O passeio não poderia terminar com uma linda mensagem de amor aos amigos, àqueles que fazem sua morada dentro do nosso peito, do lado esquerdo do peito.

Sorrindo, pasmo com o que percebo: o passeio iniciou com uma pedra que deu formas a outras pedras. E finalizo meu passeio com um caminho que dá origem a outros caminhos! Uau! Aqui refresco a memória: “Porque no meio da pedra havia um caminho”.

Flavia Araujo Taigata
Enviado por Flavia Araujo Taigata em 23/05/2015
Código do texto: T5252166
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