DERRAME VS. MILAGRE

Na manhã de vinte e seis de Setembro de 2003 acordei e como de hábito, fui ao banho matutino. Mesmo sendo dia claro, acendi a luz; faço há muito tempo, pois aos cinquenta e tantos anos, perdi algo da acuidade visual, importante em tarefas como barbear, que exijo sempre liso.

Sentia-me muito bem naquela manhã, e ato contínuo aos meus preparativos de asseio, escolhi uma roupa descontraída, pois era sexta feira.

Pronto para sair, fui ao quarto de meu filho mais jovem, para acordá-lo, pois seria mais um dia de aula, e já antevia a cena de todos os dias:- Eu chamando e ele pouco se importando! Ele era “dorminhoco” mesmo, mas ainda assim, dei início ao processo...

Fiquei surpreso ao tentar chamá-lo pelo nome que não pude pronunciar... Tentei dizer: - Lucas! Tudo o que consegui foi balbuciar:- “Uaá”! Novamente... “Uaá”! Aturdido com aquilo, mas não compreendendo o que estava acontecendo, voltei ao quarto tentando pronunciar, mas novamente consegui apenas o ruído. A esposa percebeu algo e pulou da cama de sobressalto, reconhecendo que algo estranho acontecia. O mesmo se deu com o filho, que apesar de nunca despertar tão rapidamente, levantou-se, dando conta que algo diferente se passava comigo naquela manhã.

Demonstrando preocupação, minha esposa sentenciou que iríamos ao hospital, e foi ao chuveiro. Eu, sem dar a devida importância àquela situação, pretendi aproveitar o tempo para o desjejum. Morávamos numa casa de pisos sobrepostos; desci, fui à cozinha e coloquei água a ferver, e movido por aquela fome de sempre, (gordo é assim mesmo) procurei por uma tigela com pães de queijo que estavam sob o forno, “encalhados” da noite anterior. Pronto o café, me servi e abocanhei um dos tais pãezinhos, mas à primeira mordida percebi claramente que o problema talvez fosse um pouco mais sério, pois nem consegui mastigar o naco e tampouco pô-lo para fora da boca com o movimento da língua. Tive que usar o dedo indicador (o fura bolo, sabe) para sacar o dito cujo antes de engasgar. Ainda assim tentei um gole do café, que escorreu pelos lábios, molhou meu queixo e tudo, então constatei que minha boca não obedecia aos comandos do cérebro...

Meus olhos lacrimejaram. Susto; mais que isso, pânico, e seguimos rumo ao atendimento ambulatorial.

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Esperando que no trajeto algo mudasse, chegamos ao hospital, e depois de satisfeitas às exigências protocolares, aguardei uns poucos minutos para ser atendido pela médica de plantão, que determinou um exame imediato de Tomografia Computadorizada.

Ainda me sentia muito bem, e embora o laboratório indicado fosse exatamente do outro lado da rua, não me foi permitido atravessá-la a pé, sendo alocada uma ambulância para cumprir o tal traslado, que foi significativamente aumentado em face do trânsito congestionado e complicado da região. Durante a “viagem” tive vontade de pedir para dirigir a ambulância, já que o condutor de ofício não me parecia tão talhado às emergências.

Pronto para o exame, num primeiro momento tive alguma sensação de claustrofobia, imaginando que o equipamento fosse impedir meus movimentos e até a respiração, já que lembrava bem aqueles compartimentos vistos nos filmes, por onde os submarinos soltam os torpedos. Mas isso não aconteceu; foi uma intervenção rápida e sem maiores desconfortos.

Enquanto aguardava a elaboração do laudo que apresentaria os resultados da pesquisa, imaginava de forma otimista que a ministração de um “remedinho” qualquer resolvesse o problema.

Impaciente, esperava que me liberassem logo, para que voltando ao escritório, pudesse dar conta do montão de obrigações que me aguardavam a espera de ações conclusivas.

Quando o resultado saiu, tive o ímpeto de tomá-lo às mãos e atravessar a rua para apresentá-lo ao médico. Ledo engano; aparece novamente a ambulância, e começamos tudo outra vez...

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Naquele período, eu andava aborrecido com algumas coisas corriqueiras desta vida, incluindo aí a programação da televisão convencional, que raramente oferecia algo de real qualidade. Assim encontrei e me tornei espectador de alguns programas religiosos e em face de sugestões, acabei adquirindo um livro intitulado “O Nome de Jesus”, cujo conteúdo central fazia apologia ao maravilhoso e milagroso efeito da aplicação correta do próprio nome Dele, para aqueles que creem, como eu.

Tão logo iniciei a leitura, percebi tratar-se de um livro incomum que serviria para consultas constantes, visando uma absorção mais densa dos conceitos para extrair uma prática de uso autorizada do nome do Senhor Jesus. Isso mesmo, naquele livro tem uma clara afirmação de que o próprio Senhor Jesus já atendeu antecipadamente a todos os nossos pedidos, e que levou sobre si todas as enfermidades, quaisquer que sejam as áreas nas quais estas venham a aparecer mesmo que transcendam a área da saúde física.

Vamos entender como “enfermidade” todas as adversidades que se manifestem em nossa vida.

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Voltando ao cenário do hospital, aguardo ansioso pelo momento de entregar o exame para o médico; esperança de receber um diagnóstico positivo que minimizasse aquela situação a um simples e momentâneo desacerto, sem maiores conseqüências ou implicações. Continuava a me sentir bem, e embora aumentasse o incômodo do descontrole dos meus músculos faciais, permaneci calmo, até que saiu o primeiro diagnóstico com origem no exame recente: AVCI – Acidente Vascular Cerebral Isquêmico, o popular e indesejável “Derrame”. Mais tarde soube que o derrame é isquêmico quando ocorre uma interrupção de artéria do cérebro, impedindo a passagem do sangue, e é hemorrágico quando a veia não suporta esse aumento de pressão e estoura. Nesse segundo caso quase sempre o dano é fatal!

De momento a outro, minha vida estava de pernas para o ar. Internação imediata na UTI; tiram-me as roupas, levam embora meu telefone celular, vestem-me com uma daquelas camisolas ridículas e prostram-me num ambiente coletivo, onde eu coabitaria com outros oito pacientes em fase terminal. Durante minha curta estada naquele recinto, pude presenciar a morte de dois deles.

Ao menos para mim, a internação era uma possibilidade totalmente imprevista, fora de cogitação mesmo, e em virtude da inesperada situação, encontrava-me desprovido de algumas coisas imprescindíveis para a permanência fora de casa. Pedi então (escrevendo) à minha esposa que buscasse os objetos afins à situação; escova dental, chinelos, rádio de pilhas, pente, água com gás, e badulaques do uso cotidiano. Além disso, pedi o livro que estava à cabeceira da cama.

Rapidamente fui atendido; foi num pé e voltou no outro. Quando ela chegou de volta ao hospital, eu já estava “acomodado”, e uma das auxiliares de enfermagem se apressou a gentilmente informar que ela deveria ir embora, já que na Unidade de Terapia Intensiva não eram permitidos acompanhantes. Isso piorou muito minha situação. As pessoas que me conhecem vêem em mim alguma segurança e certa autossuficiência, e nem podem imaginar como preciso da minha esposa, especialmente nessas horas extremamente difíceis.

Com uma sensação que imagino ser parecida com aquela que a nossa cachorra sente quando fica confinada e saímos todos, fiquei naquele ambiente lúgubre, com uma nítida impressão de abandono, muito embora mais tarde viesse a perceber toda atenção e gentileza da equipe de atendimento que me acolhera.

Lembro que tais fatos ocorreram pela manhã e que havia tido um sono satisfatório, reparador mesmo. Eu não sentia cansaço ou sono de jeito nenhum, e meu estado de vigília plena estaria garantido também por uma tensão natural, gerada pelos cuidados ou ações de acompanhamento médico (medição de temperatura, pressão arterial, coleta de amostras de sangue, e outras).

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Tomei o livro “O nome de Jesus” e reli apenas o primeiro capítulo.

A propósito, preciso esclarecer ou retomar algo sobre minha formação cristã, pois creio que os meus conhecidos não saibam da origem de minha fé. Reconheço que uma avaliação um pouco mais ácida seja pertinente por conta de tudo que já fiz e disse. Pelo menos não devo ter sido avaliado como hipócrita, mas sei que esse não é nenhum mérito.

O que de fato importa neste momento presente, no qual dou a conhecer uma situação real, é que aos seis, sete anos de idade, ouvia com minha mãe os programas de rádio que apresentavam encenações de textos reais. Numa dessas ocasiões, a emissora apresentava os derradeiros momentos da vida do Senhor Jesus, descrevendo em pormenores os vilipêndios, as agressões, as ofensas e as humilhações que a Ele imputavam no ensejo da cruxificação; era o martírio enfim...

O texto do rádio, bem desenvolvido contribuía para que meu coração ficasse inocentemente dilacerado de dó, indignação e comoção. Chorava muito, e fiz todas as perguntas potencialmente esperadas para uma criança; minha mãe foi esclarecendo dentro do possível, a razão daquelas mazelas a que Ele estivera submetido. Hoje creio que naquele momento o Espírito Santo de Deus selava a posse do meu ser em caráter irrevogável, definitivo mesmo. Assim me revelei cristão definitivamente, muito embora isso não necessariamente viesse a significar que me ligasse a uma religião ou igreja, mas a minha vida continuou com os princípios assimilados.

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Quando terminei a releitura do introito do livro, minha mente se iluminou e decidi tomar posse da minha benção, que como acabara de recordar, era minha por direito, em face da concessão feita pelo Senhor. Para entendimento amplo deste raciocínio, recomendo que a obra “O nome de Jesus” seja lida. O autor é Kenneth E. Hagin.

Dentro desse quadro, orei a Deus... Pedi em nome do Senhor Jesus, que pudesse adormecer, apesar de não ter nenhum sono, e acordar restabelecido.

Determinei aos males que me afligiam que saíssem de mim, pois não me pertenciam, conforme os ditames que devem reger a vida de um cristão de fé. Fiz essa “oração” em pensamento, de maneira fervorosa e com uma certeza de êxito. Veja que o que pedi não foi pouco. Fiquei lá deitado, quieto. Só fui perceber que tinha adormecido, algum tempo mais tarde, quando acordado pela enfermeira. Naquele momento, disse a ela: - Pode levantar a cabeceira da cama, por favor? Ela, surpresa, exultou:

- O senhor está falando!

Então me dei conta! Tive uma experiência pessoal e diferenciada com Deus, fui reparado pela misericórdia do Senhor, que atendeu plenamente meu pedido e me curou.

Dois dias depois fui liberado com a alta médica. Foi mais difícil conseguir isso do que conseguir que o próprio Deus, em nome do Senhor Jesus, que por Sua infinita misericórdia, me curasse milagrosamente.

Agradeço a Deus por essa, e por todas as outras bençãos recebidas, e a você por sua atenção a este relato.

CLAUDIO FITTIPALDI. ' .

Outubro de 2003.

Revisão: 10/2005 – 07/2015

Claudio Fittipaldi
Enviado por Claudio Fittipaldi em 12/08/2015
Reeditado em 07/09/2015
Código do texto: T5343513
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