O estranho desaparecimento das palavras
Lucas vivia numa estranha cidade em que os seus habitantes tinham o “péssimo” costume de proferir algumas palavras de acordo com as situações vividas.
De manhã, dava-se bom dia; à tarde, dava-se boa tarde e à noite dava-se boa noite.
Quando esbarrava-se em alguém na rua e mesmo quando ofendia direta ou indiretamente outra pessoa, pedia-se desculpas.
Para fazer um pedido ou perguntar algo, normalmente utilizava-se o por favor. Quando atendido, proferia-se o obrigado, quase sempre com o enunciado completo: muito obrigado.
Aquilo tudo desagradava o garoto, e, não raras vezes, fingia esquecer as “chatas palavras”.
Mas, alguns anos depois, o menino mudou-se com sua família para uma cidade de nome estranho. (Pensei em não revelar o nome para que não haja um deslocamento maciço de pessoas para lá, mas o esquecimento se encarregou de tal tarefa).
Nesta cidade, não se pronuncia as tais palavras; com o tempo as pessoas foram se esquecendo.
Lucas soube que os pais não mais as ensinavam para seus filhos e, assim, eles jamais poderiam lembrá-las.
Para que os velhos, que as conheciam, não abrissem a boca e as contassem, incitando a rebelião, inúmeras leis foram decretadas em toda cidade para inibi-los.
E, com isso, já habituado em seu novo lar, Lucas esquecera aquelas velhas palavras que ele sempre fizera questão de não saber.