A colonização através da língua

O período das colonizações já passou há bastante tempo; não faz mais nenhum sentido, atualmente, uma nação invadir uma outra por motivos econômicos ou por um simples desejo de expansão territorial, de modo, a causar guerras de proporções gigantescas. Correto? Em parte, sim. A colonização autoritária, exploradora e opressora, quiçá, tenha chegando ao seu fim. Todavia, existe uma outra modalidade de invasão bem camuflada e cheias de” boas intenções”: a introdução de uma língua estrangeira no ambiente educacional, em especial, a inglesa. Seguindo os moldes dos métodos clássicos de dominação e conquista de uma nação sobre uma igualmente, é natural e, inevitável, após um determinado tempo, que a cultura do dominador influencie e altere os costumes do seu dominado e, consequentemente, a subserviência chega a um ponto onde o “eu”, a identidade, as raízes regionais podem perder autenticidade e a distinção uma da outra.

A simples adesão de uma língua estrangeira sem uma necessidade concreta e, embasada apenas, com argumentos de que com domínio total ou parcial, deste novo idioma trará mais oportunidades profissionais e um conhecimento mais amplo de mundo, nem sempre se sustenta; pois, quais vantagens teria e terá crianças de quatro a dez anos (há casos com até menos idade) aprenderem a “língua universal”? Nesta idade, os nossos pequeninos precisam brincar, conhecer e aprender o seu idioma original. É evidente que é importante para um melhor desenvolvimento da aprendizagem do aluno, isto é, da criança que haja a participação de outras linguagens no seu inicial processo de formação, pois há pesquisas cientificas que comprovam que é neste momento da vida que aprendemos com mais facilidades um outro idioma e que, também, estimula o celebro, aumenta a percepção auditiva, melhora a fala e articulação, entre outros benefícios, mas por que o inglês é visto como a “melhor” opção, e por que não francês, italiano e, no nosso caso, em especial, as línguas indígenas como por exemplo, o tupí?

No Brasil ainda há mais de cem línguas indígenas vivas; na época do “descobrimento” existia algo entorno de mil. E não podemos esquecer que a nossa língua portuguesa (não brasileira), segundo a esmagadora maioria dos linguistas, é uma “filha” do latim, do mesmo modo que o castelhano, galego, italiano, francês, entre outras. Seria, até, mais coerente e logico que tivéssemos uma maior aproximação, desde o ensino fundamental com estas línguas, pois elas são naturalmente interligadas, até um certo ponto, com a nossa cultura e, consequentemente nos traria muito mais informações e enriqueceria ainda mais a nosso conhecimento sobre nossas origens desde cedo. Entretanto, é o inglês que é o predileto e o queridinho da maioria dos sistemas educacionais em todo o mundo.

A língua do tia Sam exerce um poder e uma dominação muitas vezes subestimada. Ela estar em toda parte: outdoor, em nome de lojas, de produtos e, até, em nosso dicionário. Estar também em nossas casas, nas TVs em desenhos animados “educativos “e, de maneira “inocente” empurrando a sua cultura goela abaixo. Crianças de dois e três anos, que mal sabem pronunciar o som das letras da nossa própria língua, já são apresentadas e “conquistadas” com este novo mundo. Dora aventureira e Super why (desenhos animado) são exemplos dos novos colonizadores contemporâneos.

Uma consequência trágica desta tentativa de criar ou solidificar uma única língua universal é a extinção de outras. Pois quando é dado mais importância a um determinado código linguístico do que a outro é natural que este perca seu valor e, ao longo do tempo, entre em desuso. Há várias línguas e dialetos morrendo em nome da fama e do “prestigio” de outras. Voltando a pergunta, por que o inglês é a melhor opção para uma segunda língua? Por que é a língua mais importante? Não, não existe uma língua mais ou menos importante que outra. Por que possui uma rica cultura histórica? Não, se fosse por este motivo, seria o latim a” melhor” opção. Então qual é razão de sua tamanha influencia no mundo contemporâneo? Dinheiro é igual a poder, que por sua vez, é igual a controle.

A moeda americana é a mais valorizada e respeitada em todo o mundo, a sua economia exerce uma enorme influência na maioria das nações e, há uma mentalidade propagada, há bastante tempo, que tudo que vem e é feito pelos americanos é bom e precisamos conhecer e, é através da sua língua que todas as portas serão abertas, que toda ausência de bom conhecimento será sanado. A música, os filmes, os produtos alimentícios, enfim; todos eles representam o selo da qualidade americano. Ah, não podemos esquecer que a educação nos USA, com suas prestigiosas universidades, são consideradas as melhores.

Todos os motivos já citados até aqui não são suficientes para credencia-la como a “melhor” opção a ser dada no ensino fundamental nas nossas escolas. Pois tantas “qualidades” não fariam sentido e nem relevância alguma para uma criança de 4 ou 10 anos. O que vivenciamos e aceitamos sem a real noção do perigo é uma dominação assistida. A cultura americana entra em nossos lares, nas escolas e com passar do tempo nós faremos parte da cultura dela.

Concluindo, não há nenhum problema em conhecer e aprender um ou vários outros idiomas, desde que se trata de jovens que possuam discernimento. Ao aprendermos uma nova língua, absorvemos, quase que automaticamente, o seus costumes e suas características culturais. Por isso se deve ter muito cuidado ao introduzir um determinado idioma em um ambiente onde não exista uma formação plena da pessoa, isto é, quem são, o que querem e qual é o seu propósito de vida. Estas lacunas podem ser a porta de entrada para uma mentalidade extremamente consumidora e mais próxima de um ideal americano.