UTI pediátrica, leito 1
Do local onde estou, diviso uma pequena cabeça com dois olhinhos semicerrados, fixos em algum ponto perdido no infinito. Tudo o mais se esconde sob o cobertor térmico.
A seu lado esquerdo as luzes coloridas de um monitor cardíaco desfilam gráficos e valores que indicam o bom funcionamento de seu coração. Outro aparelho diz de sua respiração: ritmo, fluxo, volume, saturação... Acima, duas bolsas de soro gotejam vagarosamente.
Do lado oposto, uma bomba de infusão empurra pela sonda naso-enteral a mistura nutricional que a alimenta. Aos pés da cama, o aparelho que controla o ar que aquece o cobertor.
Nenhum choro, nem um grito. Tudo o que se ouve é o barulho do ar condicionado, um bip monótono dos aparelhos de controle e o alarme esporádico indicando o final de algum ciclo da bomba de infusão.
Na parede, à cabeceira da cama, as saídas de oxigênio, ar e vácuo, e as tomadas onde são ligados os aparelhos que a ajudam a viver.
Mais ao alto, em uma prateleira, uma boneca aguarda pacientemente o improvável dia em que sua mamãe a chamará para brincar.
(Sérgio, 06/02/14 - foto do autor)