AO PÉ-DA-LETRA

Esta história pode bem servir de alerta aos mestres de plantão (ou mestras – o esclarecimento faz-se necessário consoante ao texto em construção).

Todavia, para aqueles que não fazem do magistério o seu “ganha-pão”, não acharão, por certo, desinteressante a narrativa que segue, eis que proporcionará a todos um breve vislumbre da genial lógica que permeia os pensamentos infantis.

Naquele dia cheguei em casa um pouco mais tarde que de costume, depois de cumprido o labor cotidiano de minha atividade como economiário; e já ao chegar percebi meu filho (Lucas), na época com aproximadamente quatro anos, quieto e pensativo, e como que ativado um certo “sexto sentido”, que permite aos pais perceberem quando algo perturba aos seus “pequerruchos”, após beijá-lo, fiquei a esperar a revelação de alguma novidade.

Nada me foi dito de imediato e enquanto esquentava o leite para tomar meu café, perguntei-lhe:

- Tudo bem com você, filho, algum problema?

- Não pai, tudo bem.

- Você já tomou café?

- Sim pai, só estou pensando...

- pensando em que?

- Não, em nada.

Tomei meu café, e sem que ele percebesse perguntei à empregada se tinha acontecido algo de diferente com o Lucas, ela prontamente me informou que não.

No momento em que tomava meu café a Fabiana chegava da casa de seus pais, e fomos juntos assistir ao noticiário da TV.

Enquanto as notícias se sucediam, com o “rabo-do-olho”, vislumbrava o Lucas sempre pensativo.

Novamente o interpelei:

-Filho, foi tudo bem na escola hoje?

-Sim pai, tudo bem.

Não insisti e continuei a assistir a televisão sem, contudo, deixar de observá-lo, sempre absorto em seus pensamentos.

Lá pelas tantas, caiu o véu, revelando-nos a causa de tantos mistérios, evidenciando a magia da lógica infantil e, quiçá, em tempo, advertindo aos docentes de que os processos de ensino são muitas vezes diferentes dos processos de aprendizagem.

O Lucas chamando a atenção de sua mãe disse:

- Mãe, quando aparecer aqui em casa alguma barata, rato ou pernilongo, é você quem tem que matar viu?

- Mas por quê, Lucas?

- Porque hoje, na escola, a professora ensinou que estes são animais prejudiciais ao homem!