Durma bem

Despedir-me deixou de ser mera questão de educação e polidez. Hoje completam-se exatos sessenta dias desde que concluí que minhas mensagens de boa noite poderiam dizer algo além do óbvio. Nesta noite, depois de dois longos meses, tenho convicção de ter criado uma nova forma de expressar-me, um método eficaz de mostrar-lhe o quanto você é importante pra mim.

Aquela relutância acabou. Lembro-me, com carinho, das noites em que gostaria de dedicar-lhe longuíssimos textos, mas tive vergonha de enviar uma simples mensagem. Recordo-me das anotações que fiz no bloco de notas, ensaiando possíveis elogios e comentários sobre a sua pessoa. Acredito terem sido experiências preparatórias. A hesitação enfim passou. Hoje, assim como em todas as últimas noites, ei de escrever-lhe exatamente aquilo que pretendo dizer, sem vergonha, sem ensaio.

É madrugada de quinta e eu ainda não fui a uma das redes sociais comunicar-lhe que vou dormir. Espero que esse tempo em que me despedi de acordo com minhas novas regras tenha sido suficiente para fazê-la esperar e desejar receber meus balõezinhos, azuis ou verdes. Hoje me atrasarei, de certo por estar indo dormir muito mais tarde que o normal, mas também por querer contar-lhe o porquê de tudo isso.

Ao conversar contigo, percebi que não há um único dia em que, ao cair da noite, eu queira apenas dormir. Seria absurdo se eu dissesse que não fico cansado, mas não basta apenas deitar-me e fechar os olhos, há outras necessidades que antes eu não imaginava existirem. Antes de dormir, pequena, preciso saber que está tudo bem com você. Para que eu possa descansar adequadamente, preciso estar seguro de que fiz do seu dia, um dia um pouquinho melhor.

Quando decidi investir tempo e palavras em fazer-me um grande amigo, questionei-me entre o bom dia e a boa noite. Se por um lado eu poderia desejar-lhe um dia inteiro de felicidade, durante a noite eu poderia garantir-lhe que fui dormir pensando em você. Preferi crer que, sabendo da segunda opção, a primeira seria uma implicação.

Desculpe-me ainda ser parcialmente covarde, mas optar por desejar-lhe uma ótima noite foi, sobretudo, uma decisão protetora. Protetora em relação a você, com o intuito de sempre tentar induzir bons sonhos. Protetora em relação a mim, que apesar de incontestavelmente desinibido, ainda prefiro elogiá-la sem dar-lhe chance de agradecer ou retribuir as palavras de encantamento. Durma bem, lindeza! Saiba que você é, e continuará sendo, uma pessoa muito especial.