Ensaio sobre saber?

Já não me lembro ao certo quando é que comecei a escreve-lo e com que fim. No princípio, desconhecia a intenção primária do meu acto, porém, mais tarde quando dei-o a um amigo, este assim o considerou: Um ensaio!

Na verdade o que procuro aqui é fazer um périplo pelo saber, não ao comum saber, mas saber sábio ou seja, aquele saber que não se confina aos resultados das experiências vividas pelo individuo mas, aquele que brota de um exercício constante e quase incontinente de reflexão sobre a essência daquilo que diariamente praticamos, suas possíveis implicações com eventos futuros. Assim, acredito eu, existirem outras propriedades do “saber” ainda ocultas nas equivocadas concepções de saber. Actualmente, são poucos autores que se aventuram caminhar por essas veredas, porquanto, conhecem os meandros escorregadios desta análise árida, por isso quase nunca se fala do saber enquanto “saber saber”, ao contrário entopem-nos de afirmações erróneas, muitas destas resultantes da má interpretação dos conceitos de conhecimento e sabedoria ou ainda do adjectivo deste último. Na dúvida, consultei o dicionário da língua portuguesa contemporânea da academia de ciências de Lisboa e lá encontrei o seguinte:

“conhecimento : formação de uma ideia, de uma noção de existência, da natureza, do valor de alguém ou de uma coisa; apropriação do sujeito pensante de objecto do conhecimento; acto ou efeito de conhecer”, “experiência: aquisição de conhecimento e aptidões através do exercício continuado”,” sábio pessoa que tem uma vasta soma de conhecimentos, que tem muita erudição, que sabe muito”.

Ultrapassadas que estão as dúvidas, posso afirmar, sem receios que o saber saber não é apanágio de todos. Quer tenham conhecimento, quer tenham experiência ou ainda sejam consideradas sábias. O saber saber é um exercício que transcende os limites da nossa prática diária, porém é humano. Ora vejamos, basta ter noção da existência do nosso dedo polegar para se ter um conhecimento. Basta continuadas vezes ter noção desta existência para se ter experiência e é igualmente certo afirmar que a ou b é sábio quando apresenta uma vasta gama de conhecimentos, pelo menos aos nossos olhos. Como vêm são muito ténues as linhas divisórias destes conceitos, dai existirem muitos equívocos a respeito. Estou convencido que existem homens que possuem o saber saber, este saber que não se limita as experiências ou vivências individuais mas, um saber que recria as experiências, projecta as mais distintas reacções face a acontecimentos ou eventos futuros. O saber saber é o único capaz de oferecer um domínio mais alargado das nossas experiências porquanto é a ferramenta que adapta toda a experiência para as mais variadas circunstâncias da vida. A mais notável das propriedades do saber saber é rapidez com que ela pode ser accionada. Diante de uma situação confusa o detentor do saber pode vacilar na decisão e até mesmo errar, porém o detentor do saber seber age com rapidez e eficiência. A diferença reside no facto de que, o saber comum é casuístico, embora mais sólido. Já o saber saber na sua generalidade se apresenta mais flexível e versátil. Outra propriedade que também se destaca na anatomia do saber saber é a sua carga vibradora. Esta carga age constantemente no inconsciente do seu detentor, vai até ao mais intimo deste e conecta-se a todos as suas sensações fazendo com que não mais hajam informações fora da rédea, ou seja delimita muito bem o espaço do consciente e o do subconsciente ou inconsciente. Desta delimitação resulta a apurada capacidade do possuidor do saber saber em fazer juízo de toda a natureza no mais curto período de tempo com grau assustador de sensatez. Esta propriedade é exactamente o extremo oposto de uma das propriedades do saber comum, a intenção. O saber comum tem como propriedade mais visível a intenção, uma vez que ele é construído na maior das vezes numa perspectiva muito itinerante do objecto apreendido. Esta propriedade falseia o conhecimento, associa-o a um universo restrito de análises reduzindo assim qualquer facilidade futura, isto é, não permite o emprego de tal saber numa situação adversa da vida que seja aquela para a qual o tal saber foi construído. Ao contrario do que parece assim ao de longe, esta propriedade rompe os limites da consciência na medida que considera “geral” todas os eventos para os quais não construiu ainda um saber específico. Assim, nunca possuirá um conhecimento verdadeiro e sólido o detentor do conhecimento comum, mas sim, um amotinado de arquipélagos de ideias em sua mente, ideias tão desarticuladas e se tornam obsoletas em um curto espaço de tempo pelo raro uso. O saber saber é o mais eficaz e a escolha certa para que ama a vida e tem um compromisso ecológico com o saber. É preciso rentabilizar o saber. Usa-lo o menos em quantidade mas obter dele a maiores soluções dos nossos dilemas.

Ademais, urge aqui abrir parênteses para me prevenir de uma de um julgamento a serei submetido pela maioria dos leitores. O facto de não recorrer a filosofia para, esta ciência do saber. Justifico a minha ignorância no antagonismo criado na filosofia por Kant Kant proclamou a impossibilidade de conhecer o que quer que seja para além dos fenómenos ou aparências. Com efeito, nota-se da filosofia antiga e medieval para a moderna e pós-moderna, isto é, na passagem da filosofia como antevisão da sabedoria para o conceito actual uma ruptura no conceito ou mesmo noção de saber dai, a minha ignorância. Aconselho por isso, que tenha um saber geral, pois, casuística acelera o tempo do saber e ele envelhece antes do tempo, não deixe o seu saber envelhecer antes do tempo por causa do tempo. Tenha um saber sábio.

Viva a sabença!

Boa jornada do saber saber VS saber comum.

16-08-07