Corta!

Tem algo de estranho, de inesquecível, de passado e presente, enfim. Nada se acumula a tempo de impedir a explosão, tudo que se mantém aprisionado, sem meios de se expandir, num determinado momento, como uma barragem exausta de água, precisa buscar meios de fuga. O mesmo acontece quando já não se consegue evitar o inevitável. Essa...inevitabilidade, como uma faísca no paiol, se abandonada como um barco a deriva, pode levar a efeitos imprevisíveis. Assim é, assim é com tudo que não temos controle. O amor, o amor é essa faísca, esse barco a deriva, essa barragem saturada. Quando surge, o amor não tem esse nome. Surge sorrateiro, despretensioso, irresponsável, até. Com o tempo, o que começou com um olhar, um toque a toa, como uma semente germinando, desabrocha e pronto! Quando se dá conta toda atenção, todo segundo se relaciona àquele por quem se apaixonou. E então, como uma faísca no paiol ou uma barragem prestes a romper, o objeto amado será amado como único. Eu sei, disse Joana a Roberta, em lágrimas, antes de subir no trem. Corta! Disse o diretor ao gravar a última cena de um amor impossível.