Espelho, espelho meu

– Espelho, espelho meu, existe alguém mais…

– Espera!

– O que?… Como assim espera? Eu devo perguntar!

– Sim, eu sei que você quer perguntar. Mas eu quero perguntar antes.

– Como assim, perguntar? Não é você quem pergunta, espelho. Sou eu!

– Eu sei. Eu não disse que você não vai perguntar. Apenas quero fazer uma pergunta antes.

– Mas isso não faz sentido!

– Faz, e você vai entender.

– Ok, pergunte!

– Por que quer saber se você é mais bonito ou bonita, rico, inteligente ou esperto?

– Sim, por quê?

– Ora, … eu … bem… quero saber… Mas que pergunta é essa?

– Viu? Não sabe porque quer saber isso.

– O que?

– As pessoas pergunta isso sempre para mim, há séculos. No entanto, jamais perguntaram se existe alguém mais sábio. Curioso, não é?

– O que? Mas?…

– Exatamente! As pessoas se perguntam se são isso, se são aquilo. Mas para quê? Por quê? O que farão com essa informação? E vou mais longe, qual é o complexo de inferioridade ou superioridade que alimenta essa dúvida? Não é você mesmo? O que você tem feito com o que você julga ser sua virtude? O que faz com sua riqueza, beleza, conhecimento ou poder? É para sua satisfação pessoal? Gera oportunidades? Gera tudo isso para alguém? Ou é estéril, vazia, sem sentido?

A pessoa diante do espelho encarou-o, encarou-se, observou o olhar que vinha do espelho. Não mais perguntou. Virou-se e seguiu em frente. O que nos dirá o espelho?

julianopd
Enviado por julianopd em 04/09/2023
Código do texto: T7877642
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