Diante do espelho

O espelho é um utensílio extraordinário, que revolucionou a forma como as pessoas se enxergam. Estarão rindo as pessoas que leram estas palavras. Mas se derem ao menos um minuto para pensar, observarão que não são tão descabidas. Até o surgimento do espelho, as pessoas podiam olhar para outras pessoas, mas não poderiam ter noção de sua própria aparência. Até então, não existiam máquinas fotográficas ou filmadoras. Assim, as pessoas podiam olhar para outras pessoas, mas jamais para si próprias. O máximo que podiam ter de reconhecimento de si próprio seria através do reflexo em rios ou lagos, mas sempre com um pouco de distorção, em razão da movimenta da água.

Pensem bem, como seria passar maquiagem sem a existência do espelho, pentear os cabelos, fazer a barba. Algo tão comum hoje em dia e que tem como um dos instrumentos de suporte o espelho.

O espelho permite reconhecer as rugas que o tempo nos dá, permite fazer a barba ou passar maquiagem, saber se a sobrancelha precisa ser aparada ou se há manchas na pele. O espelho, instrumento incrível para olhar para si próprio, dirigir os olhos, enxergar o reflexo, a própria imagem.

Mas não é só. Se quem pára diante do espelho se der a oportunidade de ver, o que será visto? A princípio, novamente acharão graça da pergunta. Ora, ver e enxergar são sinônimos. Não, não são. A pergunta é, ao enxergarmos a nós mesmos, o que estamos vendo? O que nossos olhos revelam a nós mesmo? O que diremos a nós mesmos no momento que estamos sozinhos, diante do espelho e nos damos a oportunidade de nos vermos.

Será que enxergamos apenas nossa aparência física? Isso é tudo o que há? Será que tentamos esconder algo? E o que será isso? Será que somos nós mesmos? Ou por cima daquela aparência existe uma máscara que usamos para nos definir ou nos esconder? O que temos a mostrar? O que temos a esconder?

Diante do espelho, ao olhar, ao dirigir nossos olhos, nos enxergamos nossa silhueta, vemos o que é preciso mudar, se é preciso retocar, os fios de cabelos que se foram, a barba por fazer, o rosto a limpar. Mas será que nos damos a chance de nos ver? Ver não só o físico, passageiro, que se apresenta diante do espelho, ver o que há, o que necessitamos, o que queremos, quem somos. E talvez um dia, quem sabe um dia, podemos olhar para o espelho e ver quem realmente somos, sem a máscara, além do reflexo, aquele que fala, aquele que se manifesta através do corpo, aquele que é e deseja ser.

O que fazemos diante do espelho?

julianopd
Enviado por julianopd em 04/09/2023
Código do texto: T7877652
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