SENHOR, VEJO TÃO PERTO...

Senhor, vejo tão perto

o social se dividindo,

o pobre muito mais pobre,

o rico, esporas tinindo,

sugar tudo que pode

prá manter suas mordomias.

Da natureza, sua seiva,

dos homens suor e vida,

dos governos, afagos e regalias,

e o saber da impunidade

pelos crimes cometidos.

Para os pecados... perdão,

na igreja pequeno óbolo,

tijolo... ajuda na construção.

Senhor, vejo tão perto,

mãos de todo tamanho,

no pedir da pouca esmola,

prá bolsos sempre vazios,

sem conseguir nem retalhos

que lhes sirvam de remendos,

ouço gemidos tremendos,

abafados pela fome,

vejo o lixo ser catado,

como se fosse lavoura,

de trigo, todo pendoado

que sempre supriu sustento,

e a esperança, tão pouca,

sendo levada com o vento.

Senhor, vejo tão perto,

que não foi essa Sua idéia,

ao criar homem e mundo,

para vê-los destruídos

pela ambição de tão poucos,

que deturpam o fundamento

de se sonhar com o melhor.

Como pode as minorias,

sabendo que somos iguais,

decidir, ditando como fazer:

Catar o lixo... Colher o trigo,

ou juntar as mordomias,

Prá se ganhar sempre mais.