LUTO CANINO (II)

Depois que postei o texto, sobre o luto canino. Lembrei-me de um caso, acontecido, na pequena vila que residi em minha infância.

Lugar de muitos cães, toda casa tinha um ou mais deles, sempre vira lata, pois acabavam se acasalando, e mesmo os que tinham alguma raça, terminavam gerando uma ninhada de vira latas.

Seu Dizidoro e Dona Benedita, antigos moradores da Vila. Possuiam um cão vira lata, de porte médio, branco de machas pretas.

Era um bonito e inteligente cachorro, que atendia pelo nome de "Pivete".

Pivete, era a sombra de seu Dizidoro.

O cão o acompanhava todos os dias, para o trabalho, manhã fria, chuvosa ou de sol a brilhar, lá vinha seu Dizidoro e Pivete, lado a lado a caminhar.

Seu Dizidoro, trabalhava na terra, a plantar mudas de eucalipto e pinheiro, para a companhia de papel. E Pivete a seu lado se deitava, dando sempre o maior apoio moral, ao trabalho braçal árduo do seu amado dono.

Quando, ao final do dia, seu Dizidoro, cansado da faina, dava uma passadinha, no armazém de meu avô, que alias, era o único da vila, para um trago da "marvada". Pivete, alegre com o rabinho a abanar, ficava sentadinho a esperar.

Nessa hora, seu dono, nunca esquecia dele, pedindo sempre um pedacinho de linguiça ou mortadela, sobras que ficavam na máquina manual de cortar frios. E oferecia ao seu amigo fiel. E pivete se regalava, com a saborosa iguaria.

Uma manhã, seu Dizidoro, amanheceu indisposto, o estômago doia. Recusou o desjejum, o café fresquinho, o pão caseiro na chapa esquentado, com um pedaço de toucinho a transbordar, por cima dele.

Dona Benedita, estranhou e muito, pois seu velho e bondoso companheiro, jamais recusava o pão na chapa, com o toucinho a derreter por cima.

Foi, ele, para a faina diária, indisposto mesmo, e seu fiel escudeiro, como sempre a acompanha-lo.

Horas depois, Pivete aparece latindo sem parar. Na modesta praça da vila. Dois moradores que ali se encontravam, estranharam, ver o cão sem seu dono.

Logo perceberam, que Pivete, estava chamando por ajuda, e o seguiram. No local da plantação encontraram seu Dizidoro, caído, já morto. Com certeza um infarto o vítimou.

O que se assistiu depois, era de cortar o coração de todos. Piveti, não mais entrou no armazém de meu avô, passava todo dia por ali, cabisbaixo, triste, e seguia rumo ao único cemitério da vila. E na campa modesta, de seu dono, se deitava, todo enroladinho, e ali, permanecia o dia inteiro. Quando ao anoitecer, o coveiro ia fechar o portão do lugar, chamava por pivete, que o atendia, e deixava o lugar.

Assim, continuou agindo, até o final de sua existência, o carinhoso e fiel Pivete, que com certeza, encontrou seu Dizidoro à esperar por ele na outra dimensão.

Por essas e mais aquelas.....não tenho dúvida não, os cães ficam de luto sim.

Lenapena
Enviado por Lenapena em 21/11/2010
Reeditado em 21/11/2010
Código do texto: T2627567