Resenha: A Bazófia de Beto Brito

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A vida sem vaidade é quase insuportável." (Leon Tolstoi)

O CD Bazófias - De um cantador pai d’égua - de Beto Brito é especialíssimo na arte da fanfarrice. Brito consegue botar pra tremer nas bases qualquer um que o escute. O Cantador é, deveras, pai d’égua! E é consciente do talento que tem. A sua gabolice é tamanha que se faz mister tomar uns ‘dois dedos’ (de matuto) de whisky, pra sensibilidade abstraída não fragilizá-lo ou, porque não dizer, não o deixá-lo se sentido inferiorizado, com baixa estima.

O seu imbolê, coco, xote, ciranda e outros mexem com os brios dos bichos cabras-safados, covardes, e frouxos. É, ele mesmo, a mais alta cota de merchadizing nos versos que solta de sua viola.

A sua jactância é sentida logo na primeira goelada da Canção Bazófias:

“Sou um cantador completo/ Que canta e sabe de tudo/Meu verso é como marreta/Que bate feito um cascudo/Não sou covarde nem frouxo/Não corro nem no arrocho/Que meu saber é graúdo. (Fx. 01)

Na segunda goelada, em Botando pra moer, o surrealismo:

“Sou das crateras do mar/Dum vulcão dum asteroide/Mistura de cal e gelo/ Guia de cego androide/Do escuro abissal/Minha casa, meu quintal/Reluzente meu ovoide.(Fx. 02)

Em Coqueiro baixo, a sua genealogia artística:

“Vou dar uma sacudida/Na história, no passado/Meu avô fez a viola/Meu bisavô o dobrado/Meu tataravô cantou/O que hoje se chamou/De martelo agalopado. (Fx. 03)

No Segure o coco, o cantador é estiloso à mesa:

“...No meu café matinal/Tem farofa e mungunzá/Carne guisada com vinho/Tem torresmo, tem fubá/Tem churrasco de costela/Queijo-coalho, mortadela/E duas bacias de chá.(Fx. 04)

A Canção Assumi um compromisso mostra o caleidoscópio da vivência e amizades:

“...Criei a simbologia/Dei nome a todos os bois/Tendo amostras de pangeia/Fui amigo desses dois/De Abel e de Caim/Que falaram bem de mim/Antes, durante, depois.(Fx.07)

Já Minha palavra é faca lasca a lenha o Cantador:

“Minha palavra é faca/Na goela do sugeito/A poesia navalha/De arrebentar o peito/Corta indo, corta vindo/No final eu tô sorrindo/Faço bonito e bem feito.

E por aí vai, em Clareou na beira mar, o Bazofista arregaça:

“...Conheço todo sujeito/Pelo sorriso na cara/Onde beliscar eu pesco/N’água barrenta e clara/Nunca perdi essa manha/Cacimba que tem piranha/Gosto de meter a vara.(Fx.10)

Cabra frouxo é firmeza:

“Cabra frouxo leva peia/De soldado, de polícia/Lutei na terceira guerra/Fui valente, fui notícia/Já desfiz tanto feitiço/Que calei o reboliço/Engandor da malícia.

Por fim, as Bazófias, de Beto Brito é daqueles CDs que proporciona uma catarse no ouvinte. Não pode, de jeito maneira (como dizem os paulistas) faltar na sua seleta discoteca.

Lourdes Limeira
Enviado por Lourdes Limeira em 02/07/2012
Reeditado em 09/07/2012
Código do texto: T3756773