Amor, Fuligem

Por que não me eliminas do sistema

Dos humanos prostrados, miseráveis,

Por que preferes doer-me como chaga

E fazer dessa chaga meu prazer?

Carlos drummond de andrade

Te amo, te amo tanto,

confesso, secreto ser.

E como me dói a dor

da vigília, me dói fundo.

Dói saber do não-saber

Sequencial, matinal, lírico

Que não tarda o sofrimento

E o cimento do dia-a-dia

A juba-fria letárgica

Me rói tanto, sutilmente.

Presto, termino o verniz

E o colo polido imenso

Nada tem senão o dom

Do empirismo, sim, do eclético

Nada rouba da verdade:

A verdade não tem clero

A verdade não tem prece

não tem pressa, nada tem.

Leitura de selo délfico,

desculpa, meu Deus, amém!

Te empresto leito esporádico

Te empresto. Que solidão.

Que bíblia fizeste da face

puxando meu coração?

Olha, se bem me lembro

do esmalte verde ocular,

prendia-me como glúon

vencia-me como a arte

O mesmo dente ancorado

júbilo, riso, armadilha.

Carrasco bom, suicida

subindo pelo ladrilho

Fazendo fugir figuras.

Ó Querida, tu não vens.

Tu não vens e as mesmas flores

Choram terços sem raízes.

Choram sem teu esqueleto

De cais plácido, materno

Leito místico da carne.

Insultadas praguejavam

Logo as pétalas caiam

não mais flor, apenas voz

Escorrendo na clavícula.

Ó querida, permanecem

Esquecidas as novenas

Este povo que não reza

Meu Deus, como tão impuro?

Não sentem que tu não volta

Tu que és de pele e silício

Mistura de beiço alérgico

Boquinha que não responde,

Que fazes com este povo

Reunido em meu relicário?

Que fazes na horda exígua?

Da rocha, quartzo varrido

Na espécie. polivalente.

Dispersado na alquimia:

homúnculo, embora traste.

Triste, confesso, sou triste

Querida, se tu não vens.

Tu não vens, e eu, procarioto,

choro berços luminosos

choro sem teu rosto autótrofo

junto as mãos espesso cloro

levando o dorso (sem tronco)

halo básico. Consciência.

Caminho, caminho exausto

embora a dor da vigília

permaneça assim na estrada

de esmalte verde calado.

Querida, se tu não vens

Caminho, secreto ser,

e como me rói a dor

da elipse, profundamente.

E como me estreito antigo,

salino, a boca ascende:

Te amo, te amo tanto.

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 18/11/2014
Reeditado em 02/12/2014
Código do texto: T5039869
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